Herança

Desde a antiguidade existe uma tradição que até hoje resiste firmemente na cabeça das pessoas.

Essa tradição é quase uma imposição sociopsicológica onde os filhos acreditam que os pais têm por obrigação deixar-lhes herança e os pais de igual modo tem o mesmo pensamento.

É justo isso?

Os pais vivem toda uma vida em busca de construir patrimônios, impérios e dinastias para deixar aos seus herdeiros, perpetuar o nome da família, fazendo dela assim prospera e unida; quando na prática não é bem assim.

O que acontece na maior parte das famílias é que a herança que deveria ser um bem, acaba tornando-se um mal. Um mal porque causa a briga dos herdeiros e divide as famílias. As pessoas se matam por heranças.

Os pais trabalham, se sacrificam a vida toda, abrem mão de momentos de lazer, das viagens dos sonhos em prol de acumular bens, quando chegam na velhice esperam que seus filhos lhes cuidem com amor e carinho até o dia de sua partida, e muitos o fazem; mas não por amor, mas por interesse, visando sempre a herança. Afinal, se eu for o “queridinho”, talvez ganhe uma fatia maior desse bolo.

A herança deveria ser algo valioso não por seu valor financeiro, mas pelo valor sentimental, como a casa ou o anel de família, o vestido que foi da bisavó, o cachimbo do tataravô...

Os pais devem sim, fazer um acúmulo de capital durante sua vida, para quando chegar a velhice, aproveitarem o resto de tempo que ainda tem. Vender a casa e comprar um trailer, viajar, comprar o carro dos sonhos, o colar de diamantes, aproveitar daquilo que lhes custou tempo, saúde e muito sacrifício.

Os filhos devem não só entender esse direito dos pais, como também encorajá-los a fazerem isso, e no final, se porventura sobrar alguma herança desfrutá-la de forma tranquila, serena e de consciência limpa, por saber que aqueles de quem receberam a herança, desfrutou dos frutos do seu suor, desfrutou da vida.

A herança patrimonial só pode ser bem administrada se houver também uma herança moral, um entendimento de que da mesma forma que o progênie nada pode levar assim também nós como herdeiros nada levaremos. Sendo assim todo acúmulo excessivo se torna uma simples vaidade, e caso contrário toda herança uma avareza.