No seu tempo

Que loucura esse mundo! Quanta gente correndo. Quanta gente desesperada. Quanta gente perdida. Quanta gente afobada. Quanta gente distraída. Quanta gente desconectada. Quanta gente falando. Quanta gente gritando. Quanta gente cansada. Quanta gente exaurida. Quanta gente esgotada.

E no meio de toda essa gente, estamos nós, tentando acompanhar esse ritmo frenético que nos faz perder a vida enquanto nos engana dizendo que a estamos ganhando.

“Viva a tua vida dentro do seu tempo. Não queira correr só porque todos os outros estão correndo” (Bruna Andreoli)

Mas é isso. Com tanta gente lutando contra o tempo para fazer o máximo de coisa no menor tempo possível, é como se nos sentíssemos na obrigação de também correr porque, caso contrário, ficaremos para trás, nessa lógica competitiva na qual fundamos nossas vidas. Certa vez eu disse aqui que a vida não é uma competição. E hoje torno a dizer: não, a vida não é uma competição. Então não corra se os outros correm, não desperdice sua vida se os outros desperdiçam a deles.

“Trabalhe enquanto eles dormem”. Já ouviu isso por aí? Foi muito propagada. Tanto que hoje temos uma multidão de pessoas esgotadas, estressadas, depressivas, ansiosas. O trabalho é importante, claro. E o esforço também, afinal, sem esforço nós não nos aprimoramos. Mas o trabalho e o esforço não são a vida. Precisamos de um tempo. Do nosso tempo. Precisamos fazer as coisas no nosso próprio ritmo, respeitando nossos próprios limites, porque tempo pode não ser dinheiro, mas tempo é vida. E vida não se compra. Vida se vive. Se você desperdiçá-la, ao contrário do dinheiro, nunca poderá recuperá-la.

Não estou dizendo para que não faça as suas coisas, não lute as suas lutas, não alcance suas conquistas. Longe de mim querer propagar uma ideia de inércia na vida. Mas se for para competir com alguém, que seja com você mesmo. Tenha como missão ser ou fazer o melhor que lhe for possível a cada dia. Não melhor que o outro. Porque o outro desenvolveu potencialidades e habilidades que você talvez não tenha desenvolvido – e que pode nunca desenvolver, porque não fazem parte da sua constituição pessoal. Você, portanto, precisa se permitir a um processo – longínquo, nada de receitas mágicas ou atalhos milagrosos – de conhecer-se para desenvolver aquilo que lhe pertence ou falta. Mas, lembre-se, a meta não é para ser melhor que o outro, fazer em tempo menor que o outro, superar o outro. A meta é que você possa superar a si mesmo enquanto isso fizer algum sentido.

Eu só não poderia terminar esse texto sem a crítica pela qual tanto prezo. Como convencer as pessoas da importância desse ritmo que respeita nossos limites se muitas precisam, literalmente, escolher entre ter qualidade de vida ou ter o que comer? Como olhamos para aqueles e aquelas que são, todos os dias, explorados até o sangue? Alguns de nós escolhem uma vida afobada – muitos querem, na verdade, ao invés de resolver suas questões, não ter tempo para pensar nelas, em emoções que reprimem, mas que, em algum momento, emergirão descontroladamente –, mas muitos outros não têm escolha: precisam alimentar os filhos e também se sustentar. Isso é complexo. E exige de nós reflexões profundas. Espero ter dado o primeiro passo junto a muitos que chegaram até aqui.

(Texto de @Amilton.Jnior)