As recaídas da vida
Talvez você tenha passado por uma recente transformação em sua vida. Ou então conheça alguém que, depois de tanto lutar, finalmente conseguiu se libertar das amarras que o prendiam. Podemos estar falando de pessoas que de impacientes vorazes tornaram-se em pacientes apaziguadores, de pessoas que de insensíveis amarguradas tornaram-se em empáticas compreensivas, ou de pessoas que lutando contra vícios e dependências conseguiram libertar-se daquilo que destruía suas vidas, seus relacionamentos, sua relação consigo mesmo. Não importa. O importante aqui é a reflexão que faremos. Recaídas acontecem. E não podemos nos punir por elas.
Mudar um comportamento que há tanto tempo vínhamos adotando e que nos fazia, de alguma maneira, sentirmo-nos protegidos da bagunça do mundo, não é fácil nem corriqueiro. Há pessoas que prometem. Há pessoas que prometem transformar a sua vida em sete dias! Mas não passa de ilusão. Elas podem conseguir mudar a superfície. Retirar aquelas folhas que pairam sobre as águas. Mas não alcançam o profundo. Não tocam o que está oculto. Aquilo que, cedo ou tarde, tornará a incomodar. Então a mudança é um processo por vezes longínquo, trabalhoso, no entanto sempre recompensador!
E quando a gente muda o mundo muda. Já notou? Quando você finalmente consegue deixar de sentir aquela culpa insistente ou aquela timidez excessiva, sente-se mais seguro na hora de viver sua história e olhar para as pessoas. As coisas ganham cor. Ganham vida. Ganham sentido. Isso porque você mudou. Mudou internamente. Mudou as lentes que usava para compreender a realidade. Mudou a forma de pensar. Mudou o jeito de interpretar as experiências. Não que essa mudança tenha acontecido de repente. Você não acordou um belo dia você e decidiu que não sentiria mais culpa ou timidez. Foi um processo. Caindo e levantando. E seguindo em frente.
No entanto, a estrada da vida nos surpreende. A estrada da vida é como a estrada do mundo. Alguns trechos são tão perfeitos, limpos, tranquilos. Outros são cheios de curvas, obstáculos, buracos. E ainda há aqueles trechos estreitos, apertados, que por uma mínima falta de atenção pode colocar nossa viagem em risco. Na vida é assim. Por vezes caminharemos por trechos serenos, abertos, cheios de belas paisagens. Em outros seremos confrontados pelo escuro, pelo desafio, pela insegurança. Serão nesses trechos que a vida nos apresentará as turbulências da existência.
Recaídas acontecem.
A culpa volta. E a timidez retorna.
Somos humanos. Não somos máquinas. Já falei isso aqui uma vez, mas quero reforçar. Somos inteiramente humanos! De maneira que as intempéries da nossa história podem nos fazer retroceder alguns passos. Isso não é um problema. Retrocessos antecedem progressos. Podemos retroceder, retomar o ar, para progredir ainda mais fortes.
Quero com isso inspirá-lo a nunca se culpar ou se sentir enfraquecido quando aquele “você” de antes der às caras novamente. É apenas uma recaída. Apenas um momento de dificuldade. Mas você conseguiu superar daquela vez, não foi? Por que não conseguiria novamente? Nunca se condene. Ao contrário. Acolha-se. Na luta pela transformação as pessoas podem nos ajudar, mas sua ajuda é superficial. Na luta pela mudança somos nossos maiores aliados. Então nunca se sinta fracassado quando as recaídas acontecerem. Depois desse trecho estreito vem vindo aí uma estrada ampla para que você respire, suspire e inspire! Como diria aquele desenho, “continue a nadar”.
(Texto de @Amilton.Jnior)