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 A VIDA É MINHA MÃE E O TEMPO É MEU PAI

 

“O próprio viver é morrer, porque não temos um dia

       a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso,

           um dia a menos nela”

                         (Fernando Pessoa)

 

 

Elevo os meus braços para o alto... de mim mesmo

E agradeço...

Quem “perceber-se” poderia melhor qu’eu agora?

Quem sentirá de fato o ar que nest’hora inala?

Quem s’encontrou finalmente... na vida?

 

Ninguém nunca pergunta por que veio a este mundo

Talvez por medo da resposta!

 

Muitos dizem que a felicidade deles s’esquiva

Quando, na verdade, a maioria é que dela se afasta

Engana-se quem a busca fora [dele próprio]

A felicidade está perto

Mas perto de nós que nós... de nós mesmos

 

Oh! quem nos dera se vivos estivéssemos... sempre!

Quem nos dera se vivêssemos... o dia d’hoje!

 

O sol a nascer no horizonte agora

O qual com imenso prazer o contemplo

Tê-lo-ia morrido ontem?

Se então, o sol nasce e morre como todos nós?!

 

Morre uma estação para que venha a nascer... outra

O ciclo da vida e do tempo

Tudo... tudo... tudo...

E, assim, nós também...

 

Quando realmente... nasci?

Teria sido mesmo no dia em que vim ao mundo?

Não, não creio

Nasci como todo mundo... (que não nasce)

Sempre existi... (como todo mundo)

 

Olhei novamente para o horizonte

A ver nascer o lindo sol n’alvorada

Mas, teria mesmo o sol “nascido” n’aquela hora?

Ou já existia antes daquel'alvorada na qual o vi...” nascer”?

 

Não nasci

Assim como ninguém jamais “nasceu”

Tal como o sol em qualquer alvorada que apenas “parece nascer”

 

No tempo... quem sou?

Sou mil pessoas ou, quem sabe, não sou nada (e nunca fui... cois'alguma)

E nele - no tempo - oh! com quantas pessoas encontrei! ...

 

E todas passaram pelas ruas e avenidas de meu [místico] tempo

Seriam as mesmas d’outra vida?

“Outra vida”!?

Haverá mesmo “outra”?

 

Todo mundo é uma "cidade"

Na verdade, cad'um

Eu, você, nós...

E eis qu'eu caminhei em suas ruas e ladeiras também

Serei (ou fui sempre) o mesmo n’outra vida a que co’elas encontrei?

Por aqui, talvez...

Ah! Já nem sei mais quem sou, nem o qu'estou dizendo

Perdido estou... (como todo mundo)

 

Alma a qu’estaria por nascer?

Mente a que se sujou no tempo?

Qual o meu nome [real] ao qu’eu não sei?

Tenho mil nomes...

A maioria... falso

 

Meu Deus! Quantos passos já andei nesta vida que só Vós

... é que sabeis a sua real conta

(nesta vida surreal em que nela passei... e ainda passo)

 

Escrevo e registro o que penso a tod’hora

(mesmo sem ser... escritor)

E continuo sempre a escrever as páginas de minha história

 

Quantas almas amei?

Não esqueci nenhuma que ante meus olhos passaram

Mesmo aquelas que um dia sem se despedir... deram o fora

E me abandonaram...

 

Almas irmãs [minhas]!

Se me alegrei co’algumas?

Com todas, mesmo as que não me amaram

 

Viver é muito complicado e todos nós em processo de formação estamos

Ninguém pode cobrar nada de ninguém

Ninguém tem este direito

 

A minha biografia não começa no dia em que nasci, é fato

E nem sei se começou antes ou se, deveras, foi durante est’existir

 

Com quantas coisas m’enganei?

Com tudo o que todo mundo igualmente s’enganou... e, assim, quebrou a cara

 

E em mil cenários estive:

Já fui estudante de Filosofia até o momento em que acordei

... para a realidade que Filosofia não se aprende em nenhuma faculdade

 

Cismei de querer ser religioso... (um monge)

Mas tive que isto largar por ter sido vencido pela promiscuidade

 

Procurei imitar os outros (e o que eles fazem), ao que me tornei burguês e idiota

Contudo, isto também abandonei porque vi qu’estava traindo a mim mesmo

A querer ser o que eles são... e sem ser... eu mesmo

Misericórdia, meu Deus!

 

Bom, não acho que passei [aqui] em vão

Fiz de tudo neste mundo

E por isso acredito que valeu a vida

 

Se algumas lutas perdidas foram?

Não tô nem aí

Foda-se quem riu de minhas quedas

E acaso alguém [aqui] “sempre” ganhou?

Cai, sim, e muitas vezes... (ao que perdi a contta)

Mas em todas [as quedas] me levantei

No caminho para o calvário ninguém nunca ficou sem cair

(nem o próprio Verbo encarnado)

 

Se broxei com alguma mulher?

Oh! Atire-me a primeira pedra o homem que nunca [aqui] pelo menos

... uma vez co’alguma broxou

E, geralmente, com aquela que ele mais queria [co'ela] ficar, é claro

Mas sem jamais passar pelo vexame de broxar

E interessante que todas [elas] me consolaram!

 

Se tremi as pernas algumas vezes?

É claro que sim

Como qualquer mortal

 

Isso mesmo: não fui ninguém diferente de ninguém

Ao qu’eu não fui um super-homem ou um ser especial

Fui e continuo sendo... a humanidade inteira

Com suas glórias e fracassos

Com suas vitórias e derrotas

 

E dado a tudo o qu’eu falei não sei se posso escrever a minha autobiografia

Considerando que ainda não nasci

Isso mesmo:

Eu ainda habito no embrião da Vida... e no coração do Tempo

 

Sim, sou deles... filho:

A Vida... é minha mãe

O Tempo... é meu pai

 

14 de setembro de 2022

 

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IMAGENS: GOOGLE

 

 

Estevan Hovadick
Enviado por Estevan Hovadick em 14/09/2022
Reeditado em 14/09/2022
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