A VIDA É MINHA MÃE E O TEMPO É MEU PAI
“O próprio viver é morrer, porque não temos um dia
a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso,
um dia a menos nela”
Elevo os meus braços para o alto... de mim mesmo
E agradeço...
Quem “perceber-se” poderia melhor qu’eu agora?
Quem sentirá de fato o ar que nest’hora inala?
Quem s’encontrou finalmente... na vida?
Ninguém nunca pergunta por que veio a este mundo
Talvez por medo da resposta!
Muitos dizem que a felicidade deles s’esquiva
Quando, na verdade, a maioria é que dela se afasta
Engana-se quem a busca fora [dele próprio]
A felicidade está perto
Mas perto de nós que nós... de nós mesmos
Oh! quem nos dera se vivos estivéssemos... sempre!
Quem nos dera se vivêssemos... o dia d’hoje!
O sol a nascer no horizonte agora
O qual com imenso prazer o contemplo
Tê-lo-ia morrido ontem?
Se então, o sol nasce e morre como todos nós?!
Morre uma estação para que venha a nascer... outra
O ciclo da vida e do tempo
Tudo... tudo... tudo...
E, assim, nós também...
Quando realmente... nasci?
Teria sido mesmo no dia em que vim ao mundo?
Não, não creio
Nasci como todo mundo... (que não nasce)
Sempre existi... (como todo mundo)
Olhei novamente para o horizonte
A ver nascer o lindo sol n’alvorada
Mas, teria mesmo o sol “nascido” n’aquela hora?
Ou já existia antes daquel'alvorada na qual o vi...” nascer”?
Não nasci
Assim como ninguém jamais “nasceu”
Tal como o sol em qualquer alvorada que apenas “parece nascer”
No tempo... quem sou?
Sou mil pessoas ou, quem sabe, não sou nada (e nunca fui... cois'alguma)
E nele - no tempo - oh! com quantas pessoas encontrei! ...
E todas passaram pelas ruas e avenidas de meu [místico] tempo
Seriam as mesmas d’outra vida?
“Outra vida”!?
Haverá mesmo “outra”?
Todo mundo é uma "cidade"
Na verdade, cad'um
Eu, você, nós...
E eis qu'eu caminhei em suas ruas e ladeiras também
Serei (ou fui sempre) o mesmo n’outra vida a que co’elas encontrei?
Por aqui, talvez...
Ah! Já nem sei mais quem sou, nem o qu'estou dizendo
Perdido estou... (como todo mundo)
Alma a qu’estaria por nascer?
Mente a que se sujou no tempo?
Qual o meu nome [real] ao qu’eu não sei?
Tenho mil nomes...
A maioria... falso
Meu Deus! Quantos passos já andei nesta vida que só Vós
... é que sabeis a sua real conta
(nesta vida surreal em que nela passei... e ainda passo)
Escrevo e registro o que penso a tod’hora
(mesmo sem ser... escritor)
E continuo sempre a escrever as páginas de minha história
Quantas almas amei?
Não esqueci nenhuma que ante meus olhos passaram
Mesmo aquelas que um dia sem se despedir... deram o fora
E me abandonaram...
Almas irmãs [minhas]!
Se me alegrei co’algumas?
Com todas, mesmo as que não me amaram
Viver é muito complicado e todos nós em processo de formação estamos
Ninguém pode cobrar nada de ninguém
Ninguém tem este direito
A minha biografia não começa no dia em que nasci, é fato
E nem sei se começou antes ou se, deveras, foi durante est’existir
Com quantas coisas m’enganei?
Com tudo o que todo mundo igualmente s’enganou... e, assim, quebrou a cara
E em mil cenários estive:
Já fui estudante de Filosofia até o momento em que acordei
... para a realidade que Filosofia não se aprende em nenhuma faculdade
Cismei de querer ser religioso... (um monge)
Mas tive que isto largar por ter sido vencido pela promiscuidade
Procurei imitar os outros (e o que eles fazem), ao que me tornei burguês e idiota
Contudo, isto também abandonei porque vi qu’estava traindo a mim mesmo
A querer ser o que eles são... e sem ser... eu mesmo
Misericórdia, meu Deus!
Bom, não acho que passei [aqui] em vão
Fiz de tudo neste mundo
E por isso acredito que valeu a vida
Se algumas lutas perdidas foram?
Não tô nem aí
Foda-se quem riu de minhas quedas
E acaso alguém [aqui] “sempre” ganhou?
Cai, sim, e muitas vezes... (ao que perdi a contta)
Mas em todas [as quedas] me levantei
No caminho para o calvário ninguém nunca ficou sem cair
(nem o próprio Verbo encarnado)
Se broxei com alguma mulher?
Oh! Atire-me a primeira pedra o homem que nunca [aqui] pelo menos
... uma vez co’alguma broxou
E, geralmente, com aquela que ele mais queria [co'ela] ficar, é claro
Mas sem jamais passar pelo vexame de broxar
E interessante que todas [elas] me consolaram!
Se tremi as pernas algumas vezes?
É claro que sim
Como qualquer mortal
Isso mesmo: não fui ninguém diferente de ninguém
Ao qu’eu não fui um super-homem ou um ser especial
Fui e continuo sendo... a humanidade inteira
Com suas glórias e fracassos
Com suas vitórias e derrotas
E dado a tudo o qu’eu falei não sei se posso escrever a minha autobiografia
Considerando que ainda não nasci
Isso mesmo:
Eu ainda habito no embrião da Vida... e no coração do Tempo
Sim, sou deles... filho:
A Vida... é minha mãe
O Tempo... é meu pai
14 de setembro de 2022
IMAGENS: GOOGLE