Cheiro de saudade
Caminhar pelas ruas sempre reserva alguma surpresa. Um hábito que não é de todos. Nos dias agitados, nas pequenas ou nas grandes cidades, cada um que dá seus passos na rua carrega em si o próprio mundo. Leva-o de cá para lá, de lá para cá. Alguns escolhem mover seus mundos de dentro de seus automóveis. Mas quem o move por suas próprias pernas, pode esbarrar em outros tantos. Uns passos pela rua e você encontra inúmeros desconhecidos, e pode se perguntar o quão parecida com você aquela pessoa pode ser e você não sabe. Rostos fechados, com sono, cansados de uma noite insone, alegres, sorridentes. Se caminhar todo dia pelo mesmo caminho corre o risco de tornar o rosto desconhecido em frequente encontro casual, até se arrisca a sorrir em cumprimento silencioso ao rosto não mais estranho. Nos dias de chuva há o combate de sombrinhas, guarda-chuvas e a ameaça das poças d’água. Nos dias frios, o vento te encolhe e você ainda observa a fumaça saindo dos bueiros, esperança de algum lugar quente. Mas há ainda aqueles dias que você sofre um bombardeio de cheiros, uma sequência que ativa memórias. O café recém passado, o pão quentinho saído do forno, o perfume da loja que sempre esteve ali. O cheiro de talco que lembra infância. O cheiro não identificado que desperta a lembrança do abraço. Ainda que encontre cheiros que despertem asco. Outros tantos, carregados de significados, são como aquele dedo que te toca o ombro e diz “Olá! Há quanto tempo não te via por aqui. Deixe-me te abraçar.”