Tesouros vazios
Nossos heróis não são de ferro. A juventude eterna não lhes pertence. O sorriso no rosto não é garantido. São humanos que admiramos, enquanto forem fieis ao papel de nossos heróis.
Quando revelam-se humanos, falhos, como nós, já não servem para admirar. Queremos o inalcançável, para neles projetar tudo aquilo que jamais alcançaremos.
Almejamos a perfeição inexistente, semeando nossa própria frustração. Gabamo-nos de feitos que não significam nada. Todos nos afogando nesse mar de ilusões.
Queremos que este forme um casal com aquele, porque achamos saber melhor do que eles mesmos o que lhes é adequado. Na realidade, pouco nos importamos com a felicidade dos indivíduos. Nossas intenções são egoístas, visando somente a satisfazer nossos anseios por algum final feliz.
E, assim, jogamos fora o tempo precioso que nos é dado. Em busca de baús de tesouro vazios. Encenando, em vez de viver. Reclamando, em vez de agradecer. Deixando para perceber tarde demais que tínhamos tudo, só não soubemos ver.