TUDO DESEJAS, MAS NADA TENS: A RESISTÊNCIA ANTI-MATERIALISTA EM DIÓGENES

O homem é conhecido por sua excentricidade. Denominado como narcisista e egocêntrico, eis que não passa de um acúmulo de vaidades e tédios.

No século IV a. C., encontramos a figura emblemática de Diógenes de Sínope. Depois que seu pai fora preso e ele exilado na Grécia, adotara um estilo de vida anti-materialista, voltando-se apenas à busca do conhecimento e a companhia de seus cães (kynos - movimento Cínico).

Diógenes, ironicamente, percorria as praças de Atenas à procura de um homem. Que tipo de homem Diógenes procurava? Um tipo raro, virtuoso e voluntário. Ele buscava um homem que pudesse viver, corajosamente, desprendido das vaidades da vida. Que pudesse resistir os prazeres em nome de um valor racional, que não estivesse vinculado a desmedida humana.

Encontraria relevância hoje à procura de Diógenes a esse raro homem? A pergunta soa loucura em um mundo cegado pela vaidade. Um mundo que estimula a desejar tudo que não tens, e ao possuir, continuará nada tendo. O ter é efêmero! Se tens, é porque não tinhas. E depois de tê-lo, nada mais significará. Diógenes quis mostrar a fugacidade e tédio após o gozo dos inúmeros prazeres que a vida nos oferta. Não significa a condenação dos prazeres, e, sim, sua banalidade. O prazer se deforma quando os excessos sobrepõe-se. Quando a razão de viver se limita aos desejos de tudo possuir.

Não há homens voluntários, heróicos ou destemidos que estejam dispostos a refletir ou lançar-se à razão de ser, sem ter. Encontrar seu significado em si, e, não, no para-si do mundo.

Não apenas Diógenes quis mostrar a pequenez existencial de Alexandre Magno. Cristo, séculos depois, viera mostrar a pequenez dos homens de seu tempo, que estavam dispostos a morrerem para conquistar o mundo e perderem suas almas. O lendário guerreiro, Aquiles, preferiu a glória do seu nome ao morrer por sua pátria do que a vida longínqua sem os louros da guerra.

A lógica que prevalece entre os homens têm cunho utilitarista: vivas com o máximo de prazer possível, de modo que eleve sua satisfação. Ainda que o preço final é nada se ter.

Juliano Siqueira
Enviado por Juliano Siqueira em 09/09/2022
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