Constantemente sendo

Não nascemos prontos. Não. Muito pelo contrário. Chegamos completamente incompletos a esse mundo de bilhões de outros incompletos. Por mais que tentem nos definir, por mais que tentem nos encaixar, por mais que procurem nos moldar. Nunca nos completamos, nunca nos definimos, nunca ficamos prontos. Porque a natureza humana é ser constantemente. A natureza humana é estar. E estados são passageiros. Um estado termina para que o outro comece. A alegria dá lugar à tristeza que dá lugar à alegria que dá lugar à tristeza... Não há um objetivo concreto para o qual nos encaminhemos. Apenas somos. Ou estamos. A gente se constrói todos os dias.

Então podemos crescer. Isso quer dizer que podemos evoluir. O que evidentemente nos traz a ideia de que podemos corrigir nossos erros. Não. Não somos nosso passado, porque somos incompletos, lembra? Somos indefiníveis. Então, não. Não podemos nos definir pelo que vivemos até aqui. Porque podemos corrigir os passos tortuosos, preencher as lacunas em branco. Enquanto existirmos poderemos continuar sendo quem quer que sejamos. Se a definição, em algum momento, acontecer, não estaremos mais aqui para aprová-la ou contestá-la. Será no ponto final da nossa história que poderão dizer quem fomos. Mas apenas no ponto final.

Com isso quero dizer para que não tenha medo de continuar tentando, caminhando, vivendo. E daí que cometeu alguns deslizes? Todos erramos. E daí que não conseguiu aquela tão sonhada perfeição? Somos tremendamente melhoráveis e inquestionavelmente incapazes de sermos perfeitos. E daí que não foi bom o suficiente para suprir as expectativas que colocavam sobre você? Somos unicamente responsáveis pela nossa existência, os outros que procurem a satisfação de seus próprios intentos nessa vida tão passageira. O que não dá é que, a partir dos poucos passos que demos na estrada da existência, a gente se defina pelos erros cometidos, pelas faltas que não foram evitadas, pela insuficiência inerente. Enquanto houver um trajeto à sua frente, caminhe, prossiga, vá. Você não é o que dizem. Você não é o que pensam. Você não é o que grita seus próprios julgamentos. Você pode ser. E pode ser algo além de definições tão limitadas e equivocadas. Mas esse ser só você pode construir. Apenas não se esqueça de que a construção não tem fim. Os ornamentos finais serão colocados pelos outros quando a sua existência tiver se encerrado. E os ornamentos que colocarão sobre a sua casa dependerá das inspirações que você provocar em cada um que caminhar uma fração do tempo ao seu lado.

(Texto de @Amilton.Jnior)