O SUICÍDIO COMO TABU SOCIAL

Engana-se quem pensa que apenas a sexualidade constituiu-se o tabu totêmico de nosso tempo. Em meio a campanha mundial do setembro amarelo - oriunda da homenagem ao jovem americano, Mike Emme, que em 1994, aos 17 anos, tirou a própria vida - faz-se urgente discorrer sobre o tema! Na ocasião, no sepultamento do jovem, seus pais distribuíra fitas amarelas com frases motivacionais. A OMS oficializou assim, a campanha, que se segue este mês.

A ciências sociais e médicas enfrentam um desafio atemporal. Porque o fenômeno suicida não atinge apenas o indivíduo em si, mas o coletivo social. Deste modo, vale salientar que existem uma variante de circunstâncias e elementos externos e internos que dificultam uma intervenção efetiva. No seu clássico trabalho (O suicídio, 1897), Émile Durkheim traça uma série de fatores (institucionais, climáticas, crendices, genética e outros) que podem contribuir e culminar no suicídio. Ou seja, é um fenômeno social e coletivo. Então por que não debatê-lo exaustivamente?

Com taxas tão elevadas de suicídio no mundo, que se alastra como uma peste, o assunto é espinhoso e evitado - seja por negligência ou por ignorância. Fato é que, a campanha é um ato importante, mas por si só, não faz frente ao grave problema de ordem pública. Em tempos onde a depressão assola vidas, desbaratinando-as feito formigas prestes a serem pisoteadas, o suicídio evidencia-se de forma conspícua, mas esbarra-se em muralhas para que ninguém veja ou fale. O tabu soergueu-se como um véu de Maia.

O suicídio é tão urgente em suas raízes psíquicas, como o câncer é para o corpo orgânico. O sofrimento é sorrateiro, porém, intenso; a angústia é silenciosa e não menos intensa. A vida por si só se faz um fardo porque ela carrega em si suas próprias contingências. Para alguns, o simples tropeçar em uma pedra já é o suficiente para levá-lo à desgraça. Como uma fagulha que é capaz de provoca grandes incêndios quando há elementos favoráveis.

Não há receitas mirabolantes, formas mágicas ou sugestões fáceis. Deve haver fala, palavra e diálogo. A palavra como cura. A reflexão e a discussão como ferramenta para salvar vidas. O silêncio pode ser o gatilho para mais uma morte que entrará para as meras estatística.

Juliano Siqueira

Juliano Siqueira
Enviado por Juliano Siqueira em 05/09/2022
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