"Grita que é Tímido; no microfone do trio elétrico"

Faculdade de psicologia, eu com 19 aninhos e maturidade de 15, sem exageros. Eu realmente tinha a vida de um garoto de quinze anos… Um mês antes, eu frequentava dois becos que ficavam entre o colégio que eu “frequentava” (e que já era um supletivo) onde bebíamos vinho e comentávamos bandas de Heavy Metal. Fiz o vestibular e logo passei. De repente eu estava numa Universidade de Psicologia, rodado de professores e estudantes SÉRIOS PRA BURRO. Que trabalhavam e estudavam e tinham filhos, maridos/esposas, contas pra pagar. Enquanto eu estava ali, sendo membro de bandinhas de Punk Rock, com cadeiras com meu nome escrito em alguns botequins; e realmente acreditando que o amor era a coisa mais importante da vida. Sentia falta de meus dois becos onde tomávamos vinho São Jorge por um preço que – se bem me recordo – era menos de 5 reais.

Sempre fui MUITO tímido… E naquela época era pior! Eu realmente ficava doente de medo de situações que dessem destaque. E numa daquelas:"DINÂMICAS DE GRUPO" que cursos de psicologia sentem realmente TESÃO EM FAZER O TEMPO INTEIRO; Eu mal consegui abrir a boca. Mal conseguia falar, e meu rosto ficava quente, fervendo… Mal conseguia encarar aquela turma de QUARENTA E NOVE MULHERES, e eu de… “semi-homem”. Estava sempre em pânico. De repente, aqueles meses atrás, onde eu era o ‘dono das ruelas’ perto da escola… ficaram distantes. E agora eu era o cara com jeito de menino, cercado por gente que sabia certinho o que queria da vida. Lembro desta mulher…

Ela era muito comunicativa. Era jornalista formada já há muitos anos e agora estava conosco no 1o semestre de Psicologia. Eu a observava falando, falando, falando, falando e apresentando os trabalhos com a maestria de quem teve 50 minutos no ônibus pra estudar, no caminho da rádio onde trabalhava, e apresentar com toda aquela QUALIDADE. Ela tinha o dom do improviso, era maravilhosa. Leitura dinâmica e impecável. Eu, com o dia inteiro e mais um pouco, “LIVRES” pra estudar minhas falas… apresentei gaguejando, me esquecendo de tudo… e possivelmente fazendo cara de choro no fim.

Ela era muito comunicativa. Era jornalista formada já há muitos anos e agora estava conosco no 1o semestre de Psicologia. Eu a observava falando, falando, falando, falando e apresentando os trabalhos com a maestria de quem teve 50 minutos no ônibus pra estudar, no caminho da rádio onde trabalhava, e apresentar com toda aquela QUALIDADE. Ela tinha o dom do improviso, era maravilhosa. Leitura dinâmica e impecável. Eu, com o dia inteiro e mais um pouco, “LIVRES” pra estudar minhas falas… apresentei gaguejando, me esquecendo de tudo… e possivelmente fazendo cara de choro no fim.

Eu ia passando pela porta, cabeça baixa, fones de ouvido, triste…Eu era ótimo nas matérias. Mas eram as apresentações que me tiravam dos eixos. Ela pegou em meus ombros e disse:

-“VOCÊ! Qual teu signo Henrique?!”.

-“Virgem…”, respondi. Então ela:

- “SABIA!! Eu também sou de virgem, meu amor… Essa sua timidez! Não é sempre né? Com seus amigos mesmo, não é sempre assim né…?!”. - Tirei os fones e respondi sorrindo:

-“Na verdade, não. Dependendo de quem tá olhando, eu me solto mais…”. Então ela completou: - “Relaxe tá…? Relaxe que vai passar… é só uma questão de tempo. Duvido que você passe dos 30 ainda desse jeito, vai por mim! Só não desista!”. - Dei-lhe um mega-sorriso (quis abraçá-la, mas não éramos tão íntimos) e continuei meu caminho… Ela estava certa. A partir daí, resolvi olhar pra ela enquanto apresentava os trabalhos.

(continua)

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 03/09/2022
Código do texto: T7597147
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