LINEAR

Ontem foi mais um dia de esticar o novelo por onde passei. Sim! Tenho esse hábito! Acordo bem cedo pego um dos meus novelos e vou por aí… Eu tenho vários em casa. Eles tem texturas, cores, tamanhos e espessuras de fios diferentes.

Para quem não utiliza novelos como eu recomendo não tentar se aventurar na ideia. Melhor deixar com quem já faz isso…

Há muito tempo eu os possuo. Passei a me identificar com eles ainda jovem. Gosto da sensação de retirá-los dali, de deixarem de estar enovelados e serem algo. Soltei o primeiro fio, estiquei-o e não parei mais…

Geralmente as pessoas me dizem: Vi seus fios em tal lugar! Eu te vi passando com seus fios!

Eles representam meus caminhos. Trajetos por onde passo e sigo.

Em meus pensamentos estão meus novelos sendo esticados. Todos bem linearizados.

Algumas vezes, enquanto eu os estico, nas tensões da linearidade, sinto as vibrações de quem me toca.

Às vezes, nas infinitas possibilidades de percurso, em cada etapa desses trajetos e pensamentos, eu paro um pouco para refletir. Ontem foi assim… Estiquei-me e mesmo sentindo as vibrações resolvi parar. Quando acontece isso há uma tendência de me espalhar. Toma-me um emaranhado de não ser eu, de abandonar as linhas e não ter um único sentido.

Olho as redes que construí e que me levaram aos meus caminhos distintos em tramas inimagináveis e, nesse momento, sei quando sou, verdadeiramente, eu em todas essas interações das conexões e reflexões quando se tornam cada vez mais complexas, e geram essas realimentações que findam na vontade de ter que ser minha linha.

Ontem foi assim... Estiquei-me muito, senti bastante, parei uma vez, refleti profundamente, fui desencadeando-me em múltiplos finais, enrolei meu novelo e voltei pra casa.