Viva em pedaços, porém viva.
Viver para ela significava sentir. Fossem boas, ou ruins, ela tentava sempre submeter-se aos seus sentimentos e às suas sensações.
Quando lhe foram cortadas as primeiras sinapses da anima, seu corpo e mente perderam parte do que lhe era mais caro. O sentir abriu lugar para um pequeno orifício de vácuo. Já não sentia como antes. O sol que outrora ao fustigar-lhe a face lhe despertavam alegrias corrediças pelo corpo e a faziam querer dançar em rodopios, agora, não passava de luz calor incômodos.
A cada sensação reduzida, a antivida crescia.
Cresceu tanto que já não entrava luz pelas claraboias da alma, sombras preencheram os bosques e vales de seu peito e neste ambiente anestesiante, para não morrer, recorria aos sentires enclausurados na caixinha de perdidos e esquecidos.
Estava viva graças as recorrentes visitas aos cenários dolorosos de rompimentos, abandonos, desamores e rejeições. Algumas vezes podíamos observar no interior de seus olhos vítreos, durante os desligamentos da realidade e no início das visitações. A besta do apocalipse latejar ao lançar ondas de desintegração para depois sugar o sumo vital de seus sonhos, esperanças e querenças.
Estava viva, despedaçada, remendada por frágeis fios de signos, porém sentia, de uma forma não natural, mas, ainda estava viva.