Agrura de meu imo
Tristura, fissura,
Supura, mistura,
Amargura, ranhura,
Consternação que fura.
Dor da construção que sutura.
Tanto do tempo,
Desespero, silêncio que me bateu a porta.
Corte em minha aorta.
Teu silêncio: ausência da presença assustadora,
Fantasma que me costura a alma.
Sentimento que me aborta.
Presença na ausência,
Nudez, gaguez, aximez de minh'alma.
Nela, a fissura do amor e do ódio.
Completude do antagonismo que se me completa.
Tempo: você está bem mais presente na ausência.
Por mais que haja outras peles,
É na tua que me aqueço e esqueço que não te mereço.
Perceção: sensações de um, ausência do outro.
Como dói desconstruir: dissecação.
Você é a cisão de meu Tempo e de meu espaço escaço.
Que faz meu coração perder o compasso,
Tanto que jamais sei o que faço,
Se nado até o fundo de meu imo insensato,
Ou engulo os remédios alucinógenos de tuas lembranças em meus passos.
Seja feita a tua vontade!
Um dia, vamos conversar: eu, você e o tempo.
Ele é o senhor da razão: aceite-o e cale-se!
Tome o cálice do silêncio do tempo.
Como é triste ouvir a tua voz no uivo de minhas fissuras.
Tristura,
Amargura,
Condoimento.
Minha sombra projeta a tua escultura; loucura!
Suspiro,
Deambulo pelo uivo do vento,
Tua ausência que me grita Teu nome,
Perversão e Tortura,
Gemido e Ternura,
Remissão e salvação,
Tua voz,
Teu olhar que me aprisionou.
Perdoe-me, santa!
Verta tuas lágrimas em mim,
Redima meus pecados,
Ecoe-se na escuridão de meus dias,
Tire-me da transgressão,
Consternação,
Costure-me a alma,
Dá-me de beber do gozo de tua alma,
Ó, santa imaculada!
Por você, hoje, Tristura,
Amanhã, por mim, amargura,
Ódio e amor que mistura
Os dias e o tempo, transpura,
No Tempo de Tua ausência futura,
Que me dói a alma,
Em meu imo, agrura.