Necessidade de quê?
Uma das ferramentas mais poderosas do mundo são os poemas.
Eles trazem de forma leve e ritmada verdades difíceis de digerir.
Cito a esse respeito o seguinte poema de Cassimiro de Abreu:
Poema 3 cantos
Quando se brinca contente
Ao despontar da existência
Nos folguedos de inocência,
Nos delírios de criança;
A alma, que desabrocha
Alegre, cândida e pura —
Nesta contínua ventura
E' toda um hino: — esperança!
Depois... na quadra ditosa,
Nos dias da juventude,
Quando o peito é um alaúde,
E que a fronte tem calor:
A alma que então se expande
Ardente, fogosa e bela —
Idolatrando a donzela
Soletra em trovas: — amor!
Mas quando a crença se esgota
Na taça dos desenganos,
E o lento correr dos anos
Envenena a mocidade;
Então a alma cansada
Dos belos sonhos despida,
Chorando a passada vida —
Só tem um canto: — saudade!
O poeta divide a vida em 3 partes, cada verso correspondendo a uma delas. A infância, quando tudo é novidade, a juventude, quando tudo é fulgor, e a velhice, quando tudo é saudade.
O correr dos anos vem para todos que tiverem o privilégio de envelhecer, de passar por todas as etapas da vida, de fechar cada ciclo antes de abrir o próximo, e de encerrar a trajetória terrena sem deixar nenhum ciclo em aberto. Se a morte é uma realidade, muito embora seja incerto o momento de sua chegada, o que fazer? Por certo aproveitar ao máximo a experiência, esgotando cada fase da vida que não volta mais.
Muitas vezes despendemos nossa vida na corrida dos ratos, crescendo, trabalhando, acumulando, só para depois morrer e deixar tudo para trás. É claro que a vida não pode ser levada na brincadeira, vivendo-se de pura boemia. A vida exige sacrifícios, requer responsabilidades, conosco e com os outros. Como sermos verdadeiramente felizes?
Reza a lenda que Buda meditava há 6 anos quando ouviu um velho músico descendo o rio em uma canoa dando a seguinte lição ao seu jovem aluno: “Se você afrouxar demais a corda da harpa ela não produzirá som, mas se apertá-la em demasia ela arrebentará”.
Teria sido aí que Buda teria criado a lição do “Caminho do meio”, recomendado seus seguidores a afastarem-se o quanto possível dos extremos.
Não podemos ser materialistas e apegados aos bens, mas também não podemos ser relapsos com o trabalho e o sustento da família. Devemos seguir o caminho do meio, nos esforçando o máximo que pudermos para proporcionar uma vida digna à nossa família, sem que isso nos torne escravos do trabalho e do acúmulo material.
Assim, equilibrados, podemos gozar cada uma das fases da vida em sua totalidade, fechando cada ciclo para iniciar outro, e encerrando todos os ciclos antes de encerrarmos a jornada da vida, para seguirmos para novas jornadas, novas aventuras, cheias de mistérios, no além morte.
E então, como vai ser a partir daqui, vamos adotar o caminho do meio?