Noites Tropicais - Nelson Motta
A obra de Nelson Motta, “Noites Tropicais”, é um relato dos bastidores da música brasileira de quem viveu intensamente, e de perto, toda a evolução da música brasileira entre os anos de 1958 e 1992, e de seus maiores intérpretes. Tem muito sucesso e muito fracasso, lágrimas e gargalhadas, como não poderia deixar de ser, qualquer enredo da vida real. Para ser autêntico o autor relata toda genialidade – e também a pilantragem – que pairava no ar, e de um jeito leve, descortina o dia a dia de muito sexo, drogas e rock´n roll, MPB, e samba, por que não? A obra é um passeio histórico bem humorado pela bossa nova, a jovem guarda, os festivais, o tropicalismo, a MPB, a discoteca e o rock nacional. O autor leva o leitor de camarote em sua vasta experiência de compositor, produtor e diretor artístico, crítico musical e revelador de talentos. Noites Tropicais é a verdade nua e crua, um relato sem censura sobre o que rolou no intervalo entre um show e outro, de um lugar em que nenhum espectador pode ir. É uma obra para os amantes da música brasileira. É uma obra para se apaixonar. Tem muito da Elis Regina, tem muito de Roberto e Erasmo, Gal Costa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano, Lulu Santos, Lobão, Raul Seixas, Tim Maia, Cazuza, João Gilberto, Elba Ramalho e tantos outros artístas de terras tupiniquins. A música tem uma magia que ninguém explica, ela emociona, impulsiona, cura. Nos vedas indianos o “Om” é a vibração cósmica que trouxe tudo à existência, o som pelo qual tudo foi feito, o verbo. Pela teoria das cordas de Theodor Kaluza, o universo é feito de pequenos filetes de energia, semelhantes a cordas musicais vibrando. Há registros de pinturas rupestres com desenhos de flautas e apitos que datam de 60.000 anos. O instrumento musical mais antigo encontrado, inclusive, é uma flauta de osso, que data 35.000 anos. Há indícios de que os primeiros hominídeos já se reuniam em volta da fogueira para entoar cânticos e tocar instrumentos. A música faz parte da nossa essência, da essência da vida. Nem mesmo as pedras imóveis na praia estão imóveis, elas estão vibrando. Tudo vibra, pois tudo é energia. E tudo produz som. Recentemente os cientistas conseguiram captar o som produzido pelo Sol. Até o nosso querido Sol canta. Mas o mais importante de tudo, é que o autor chama o leitor para deixar de olhar para fora um pouco, e olhar para dentro. A colonização nos deixou com uma síndrome de vira-lata. É a clássica síndrome de estocolmo, em que a vítima se apega ao agressor. Fomos explorados, violentados, catequisados e convencidos de que nos estavam fazendo um favor. A lavagem cerebral foi tão grande que enquanto instrumentais estrangeiros eram tocadas nas esperas telefônicas no Brasil, por todo o mundo “Garota de Ipanema” era tocada em elevadores de prédios comerciais gringos e até em filmes de grande bilheteria. É necessário decolonizar nossas almas, aceitar nossa cor, valorizar nossos sons, divulgar nossos sabores. É necessário bater no peito e gritar “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. É necessário fazer coro com o dramaturgo Ariano Suassuna, e dizer que nós temos cultura sim senhor, e uma cultura muito bonita, muito colorida, toda misturada, cheia de energia, de vibração, e de muita fé, expressão de um povo batalhador, que ri da própria desgraça enquanto sacode a poeira para tentar mais uma vez. É tempo de puxar a brasa para a nossa sardinha, porque se a gente não se amar, ninguém mais vai. A obra é riquíssima e vale cada letra, cada vírgula, cada ponto e cada espaço vazio que completam as páginas. Ao sermos confrontados com momentos bons e ruins dos nossos ídolos, seus erros e acertos, percebemos que errar é humano, assim como ter empatia, e que o mais importante é não aceitar que ninguém nos coloque no chinelo, pois com toda a dificuldade que é a vida no morro, daqui de cima a vista é maravilhosa.