Desenvolvimento como liberdade
A obra do filósofo e nobel de economia, Amartya Sen, “Desenvolvimento como liberdade”, aborda como o desenvolvimento econômico e tecnológico, e especialmente uma melhor socialização desses recursos, pode dar mais autonomia e liberdade aos cidadãos. Os gregos já questionavam o que vinha a ser a tão sonhada liberdade. O termo grego “Eleuthéros” significa “homem livre”, e não trata apenas da liberdade física, mas em sua concepção plena. Para Aristóteles (469-399 a.C.) é livre e voluntária a ação que não sofre coações. Para este filósofo o “homem livre” implica não apenas aquele que não seja escravo ou tenha a locomoção física restrita, mas aquele que detém conhecimento e poder de decisão.
Nesse contexto Amartya Sen aborda a falta do acesso da grande maioria da população aos recursos tecnológicos. PAra o autor o desenvolvimento gera liberdade, mas apenas quando esse desenvolvimento está acessível à população.
Liberdade então - somando as falas de Aristóteles e Amartya - é muito mais do que poder se locomover livremente, mas efetivamente poder escolher livremente sua vida, de posse de todo o conhecimento e recurso necessário para isso.
Que a grande fatia do bolo é distribuída entre pouquíssimos favorecidos isso é de conhecimento geral desde que o mundo e mundo. A questão importante é: como mudar essa realidade?
Em sua obra "A República", Platão traz o "mito da caverna". Um relato hipotético em que homens são aprisionados desde cedo a correntes no fundo de uma caverna escura, podendo ver apenas sombras projetadas na parede à sua frente. Essa é toda a realidade que eles tem. Seguindo o raciocínio, um deles se liberta e sobe o paredão, descobrindo uma fogueira que projeta a sombra de transeuntes, objetos e animais na parede dos prisioneiros. Indo mais adiante esse liberto sobe para a saída da caverna e enxerga o sol, vê a cidade, os campos, o horizonte. O mundo se descortina para ele. Admirado e encantado ele volta e tenda convencer os companheiros do que há lá fora, mas é recebido com dúvidas e zombaria. Ninguém acredita nele. Tudo o que conseguem acreditar é nas sombras tão familiares para eles.
Daí podemos extrair com a mais cristalina certeza, que não há outra escravidão senão a ignorância. Um homem instruído jamais será verdadeiramente escravo, e um homem ignorante jamais será livre.
Conhecimento é poder, e enquanto os poderosos tem a plena convicção disso, as massas se contentam com a ilusão de alcançarem pelo mero esforço os postos mais elevados da posição social. Trabalham assim a vida inteira vislumbrando o sonho dourado que nunca vem, ou, quando vem, chega tarde demais.
Sem nenhum preconceito a nenhuma profissão, mas apenas para exemplificar, é por isso que um físico nuclear é muito mais valorizado que um faxineiro. Conhecimento...
A única maneira de apropriar-se da liberdade genuína é pela busca incansável pelo conhecimento.
Esse é um tesouro que a traça não pode corroer, e o ladrão não pode roubar.
O conhecimento tira as escamas dos olhos e nos torna imunes à ilusão.
O que podemos entender com muita clareza é que não interessa a quem ocupa o topo da pirâmide dividir sua gorda fatia com ninguém. Quem espera inocentemente que lhe seja destinado fraternalmente os recursos tecnológicos necessários ao seu desenvolvimento, aguardará sentado, e deixará a utopia de herança aos descendentes.
Não devemos entregar a ninguém as rédeas de nossas vidas. Tomemos nós mesmos o controle, decidindo, antes de qualquer coisa, buscar a libertação pelo conhecimento.