Palavras mortas na areia.
Eu, como talvez muitos dos brasileiros, não tive a sorte de ter uma educação básica onde pudesse desenvolver de forma consistente minha percepção e raciocínio, tendo em conta minha condição de indivíduo. A educação opressora e industrial criou uma repulsa em mim por tudo que era próximo ao que era transmitido na escola, entre essas coisas, a literatura.
Após anos absorvendo apenas conteúdos que dialogavam com minha atividade principal que era a música, cheguei em um ponto onde para continuar evoluindo, eu precisava aprender a ver o mundo desde outras perspectivas, essa necessidade se agravou na pandemia, onde fui confrontado com o possível fim da minha profissão, pelo menos da forma como sempre foi feita.
Nunca fui bom em desenho, menos ainda em trabalhos manuais, então me agarrei ao que estava mais próximo, as palavras. Decidi começar a escrever enfrentando todos os desafios que isso podia trazer, começando com tornar-me um leitor mais serio. Foi aí que me deparei com uma estrutura mental atrofiada e manipulada para receber apenas estímulos rápidos e fáceis, uma mente fabricada pela escola. Era impossível desacelerar para poder estar imerso em um conto, ou ter a mente solta para se alimentar de poesia.
Começou assim, minha grande luta contra aquele que ameaça a arte da escrita. Não acredito que as palavras deixem de ser importantes ou não sejam mais usadas, más existe um risco contra nossa capacidade de absorver uma informação que está apenas disponível em níveis sutis de transmissão. Com a quantidade de informação disponível e uma geração que já cresceu em um ambiente acelerado e de recompensas de curto prazo, as palavras de desfrute estão ameaçadas. Não sou contra as novas formas de informação, mas tenho muito receio do mal uso da tecnologia, que deu voz a todo ser humano, más tirou os ouvidos e a capacidade de estar em silêncio. O por do sol já não basta, as borboletas já não são vistas e as palavras, precisam ser menores que um emoji para serem percebidas.