Sobre o fardo de escrever
Com dez, decidi que iria ser escritora.
Escrever dá prazer, explicava o porquê de eu ter nascido no mundo.
Fiz vinte e um e muitos versos, mas nenhum das quais me orgulho.
Percebi que me falta muita coisa.
Que palavras me escapam, experiências me cegam e morro de medo do que vem após os pontos finais.
Assim, nunca terminei nada.
Me enamorei do perfeito continuo e descartei o imperfeito imutável.
Não sei adjetivos o suficiente para reunir numa única palavra o sentimento que as milhares de possibilidades do nada me faz sentir.
É sentir o infinito num sopro do verão.
Um corredor infinito de portas trancadas, abrigando vários caminhos. As portas podem ser abertas se você forçar, mas mesmo assim eu me contento em apenas admirar o outro lado pela fechadura por alguns segundos para logo depois decidir apenas continuar andando.
A maldição de uma imaginação vívida é algo isolante. Lembro da minha adolescência, onde em meus piores dias eu poderia passar horas olhando para o nada, trancada num cubo e me salvava com mundos criados e talvez seja a vontade de materializa-los que me fez querer ser escritora.
O entretanto é que cría-los é mais facil do os esculpir. E eu sempre simpatizei com o facil, até porquê do dificil eu já estou cansada.
Esse é um texto exagerado pra dizer que desde quando decidi que ser escritora legitima minha existência eu selei minha vida ao fardo de viver pela escrita, ou perecer ante a falta dela. Porque sem ela, eu nunca nem estive aqui.
Como consolo, ultimamente tenho escapado com um simples fechar de olho. E pronto. Estou em outro mundo. Um mundo onde, mesmo eu sendo Deus, eu não participo.
A eterna observadora da vida.
A efemera que desconsidera a morte.
E o tempo corre mesmo se você parar na frente dele.