Por que não demos ouvidos aos nossos pais?

Meus pais receberam essa "função" jovens, minha mãe nas fotografias sempre magra, alegre e com inúmeras cores e pinduricalhos oitentistas, meu pai com seu cabelo meio grande, meio curto e com aquela janelinha no meio dos dentes, que pra mim, é todo o seu charme.

Fui gerada em uma história que contaram pra mim de amor e aventura. Demorei 12 horas para querer dar as caras nesse mundo, nascer dói. Respirar aquele ar entrando pela primeira vez nos pulmões deve ser doloroso, desde cedo já iniciam-se as caixinhas de onde e de qual a melhor forma de se traçar um destino, pois bem, talvez no fundo meus pais soubessem que eu necessitaria experimentar algumas coisas ainda que na ausência deles.

Meu pai por exemplo, sempre conversou comigo sobre o amor, esse eu tenho aprendido com ele ainda que distante. Ele me dizia que todos sofrem por amor e que minha vez chegaria, por isso eu precisaria sempre estar bem comigo mesma, com a certeza de que apesar dos amores chegarem e partissem, ele estaria ali e absolutamente ninguém me machucaria.

Pois eu me machuquei, imersa em uma relação de dependência me fiz refém dos desejos de alguém, as caixas que me colocavam ficavam cada vez mais apertadas e aquele ar difícil quando nasci, era tudo que eu queria naquele momento. A dor da liberdade, da escapatória, da minha trajetória que por mim seria traçada ainda que com minhas dores e alegrias.

Não é egoísmo querer protejer quem amamos como meu pai fez comigo, mas, alguns sabores amargos também merecem atenção própria para não serem mais degustados com frequência. Os sabores são intensos e diversos, mas quem se alimenta deles somos nós, tudo bem experimentar aquele amarguinho, mas aprenda com ele e cuidado com a dose...

Sempre que vou visitar meu pai lembro das mais doces e amargas memórias que tivemos e hoje fico feliz por ter ressignificado cada uma delas e guardado em mim os inúmeros aprendizados que colecionei em um balcão de bar com amigos, curiosos e figuras exclusivas da minha infância que me fazem rir e me preenchem o coração com sua singularidade.

Pai, desculpa não ter te ouvido, no fundo eu guardei sim os ensinamentos e conselho. Como aprendi com o senhor :"nunca é tarde ou cedo demais" ando me doando a medida que eu me conheço, me acolho e me permito. Penso sempre em como será estar no seu papel, mas enquanto esse ciclo não se inicia, vou aprendendo, me preparando para as aventuras da vida que estão aí para serem vividas. E pai, eu sei também que o "o meu lar é onde estão meus sapatos", minha alma é livre, mas sei que caso esteja perdida, em ti encontrarei amor e abrigo em forma de ser.

CatarinaS
Enviado por CatarinaS em 11/08/2022
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