CICATRIZ
Em frente ao espelho, ela olha a cicatriz no peito. Já não dói mais, mas ela ainda lembra da dor. Indesejada, como toda dor. Necessária, entretanto.
Acariciando a cicatriz, relembra dos momentos difíceis que passou. Sabia do problema há tempos, mas nao quis resolver logo e foi deixando. O problema aumentou, não tinha cura, precisava ser arrancado.
Embora a decisão parecesse simples, escolher entre vida ou morte, ela não queria ter que decidir. Se fosse possível, deixaria lá, ignoraria o problema até que sumisse sozinho ou a matasse sem aviso. Mas o dor aumentava à medida que o problema crescia. A dor era muito ruim, sufocante, dominadora. Ela já não conseguia mais viver as pequenas alegrias que eram-lhe apresentadas. Não conseguia dormir, não conseguia respirar. Impossível continuar ignorando. Teria que resolver.
Com medo, ela decide tirar aquilo que a estava matando. Sabia dos riscos de uma amputação desse tipo, sabia que ainda doeria por mais um tempo, sabia que seria uma difícil recuperação. Mas sabia que tudo isso iria passar.
Enfrentou seus medos e as opiniões alheias. Precisava seguir livre. Aquilo não iria matá-la, nem sufocá-la mais.
Lembrando de tudo o que precisou passar, ela sente seu corpo estremecer. Pensamentos tristes ameaçam assombrá-la novamente. Tocando a cicatriz ela percebe que não dói mais. Aquilo não a matou, está viva. Isso é o que importa. Não dói mais. É livre para ser feliz novamente.