O último encontro

Recentemente assisti ao filme Ainda Estou Aqui, lançado pela Netflix. O romance, bastante delicado em seu roteiro, nos defronta com uma das mais amargas e angustiantes experiências que precisamos enfrentar nessa vida: assistir à partida de alguém que amamos. A vida é assim mesmo. A gente nasce. Cresce. Envelhece. E durante esse ciclo vamos conhecendo pessoas, colocando-as em nossas vidas, construindo laços que os unem e fortalecem. No entanto, quando menos esperamos e quando jamais desejamos, esses laços acabam se afrouxando, chegou a hora de dar adeus sem poder dizê-lo de verdade.

Se você for assistir ao filme peço desculpas pelo spoiler, mas é impossível não falar sobre o que acontece para que você consiga compreender a reflexão de hoje. A questão é que o rapaz morre, em um acidente, e a moça, sua namorada, inconformada com o fim trágico, lamenta por não ter tido a chance de se despedir e por ter como última lembrança a forma dramática como se distanciaram. Para a alegria dos telespectadores, o rapaz dá um jeito de manifestar sua presença no mundo dos vivos antes de fazer sua definitiva travessia, e ao final nos emocionamos com o último encontro com o qual nosso casal inspirador foi presenteado.

Coisa de filme. Você pode ter pensado. Mas bem que poderia ser coisa da vida real, não é mesmo?

Só que não é. Na vida real as pessoas se vão das formas mais inesperadas possíveis sem que tenhamos a chance de olhar em seus olhos pela última vez e dizer o quanto foram especiais e o quanto somos gratos por termos tido a sorte de compartilhar um pouco da existência ao seu lado. Na vida real as despedidas acontecem sem que saibamos que se tratam disso. Não sabemos quando será a última palavra. Não sabemos quando será o último abraço. Não sabemos quando será o último encontro. E não sabemos como será essa última palavra, como será esse último abraço ou como será esse último encontro. Traumáticos? Dramáticos? Ou felizes? Revigorantes? Pense na pessoa que você mais ama. Agora tente se lembrar da última palavra que dirigiu a ela. Foi áspera ou foi sutil? Pode ter sido a última.

Não quero que se assuste. Nem que se desespere pelo fato de que somos finitos, misteriosamente efêmeros. Quero apenas que você se conscientize de que na vida real não temos a chance que os personagens do filme tiveram. Eles puderam se ver pela última vez sabendo que se tratava do encontro final. Mas nós não. Não temos essa possibilidade. As últimas vezes podem acontecer sem dar qualquer alarde. Então que vivamos cada momento como se fosse o último. Como gostaríamos de vivê-los caso soubéssemos que nunca mais iriam se repetir. Porque a verdade é essa. Talvez o amanhã não venha. E tudo o que tivemos foi o hoje. Fizemos a coisa certa?

(Texto de @Amilton.Jnior)