I-LIII Jaezes de vida e morte

Diante de tanta enfermidade, por nada sofro que me adoeça.

Amarguro-me sob luxos que me separam dos apuros,

e falho estando bem, lembrando-me dos anseios que trouxe ao mundo.

Privilegiado por chorar e viver para lembrar,

duvido ser vício, duvido não haver sentido no que lastimo.

Se há alguém, não sou eu quem a vida, com regalo, atravessa.

Não serei eu quem peregrina aos refúgios de quem espera.

Nego dizer que arrisquei por não haver o que fiz.

Perante aos infelizes em busca de tempo,

creio eu ser mais feliz.

Culpam minha índole que abandona a caça,

que, por qualquer prazer, se desvia da estrada.

Índole que me leva ao longe, ao fundo, respirando e desvairando,

alcançando e pensando, e menos me culpando.

Meu ápice do prazer é à tona trazer algo meu que nem sei se sou eu.

É pouco caso fazer do que conheço, e aos outros dizer que tenho o que mereço.

Gozo pelo privilégio de não ser exposto,

por o luxo de amar alguém pelo prazer do desconforto.

Murilo Porfírio
Enviado por Murilo Porfírio em 24/07/2022
Código do texto: T7566710
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