I-LIII Jaezes de vida e morte
Diante de tanta enfermidade, por nada sofro que me adoeça.
Amarguro-me sob luxos que me separam dos apuros,
e falho estando bem, lembrando-me dos anseios que trouxe ao mundo.
Privilegiado por chorar e viver para lembrar,
duvido ser vício, duvido não haver sentido no que lastimo.
Se há alguém, não sou eu quem a vida, com regalo, atravessa.
Não serei eu quem peregrina aos refúgios de quem espera.
Nego dizer que arrisquei por não haver o que fiz.
Perante aos infelizes em busca de tempo,
creio eu ser mais feliz.
Culpam minha índole que abandona a caça,
que, por qualquer prazer, se desvia da estrada.
Índole que me leva ao longe, ao fundo, respirando e desvairando,
alcançando e pensando, e menos me culpando.
Meu ápice do prazer é à tona trazer algo meu que nem sei se sou eu.
É pouco caso fazer do que conheço, e aos outros dizer que tenho o que mereço.
Gozo pelo privilégio de não ser exposto,
por o luxo de amar alguém pelo prazer do desconforto.