Morada atípica

Vi uma imagem refletida no espelho. Não tinha uma aparência muito agradável. Observei que era alvo de críticas, por proporcionar o que as pessoas não gostam de enxergar. Cabelos grisalhos, um rosto não muito jovem, manchas na pele, próprias do tempo. Percepção de quem não desconfiava do papel ridículo que refletia. Mas que por dentro tinha absoluta certeza que estava completa, apesar de não enxergar sua imagem. Porém, não era tão ingênua em acreditar que chegava num ponto, que até os da família preocupavam. Leve, livre e solta, era fantástica sua roupa a caráter. Prontinha e cansada de tanto limite, resolveu deixar transparecer sua identidade sofrida e desgastada pelo tempo a se libertar. Refletida aparência quem a viu. Viu a mais pura e irreconhecível casca deformada e usada, por não fazer o que "eles querem". Que através do tempo, resultou em agregar a aparência padrão que já não cabia com seu habitual e pequeno tamanho, contrário a imensa e desproporcional espaço da morada interior.

Juliana Amorim Alves
Enviado por Juliana Amorim Alves em 23/07/2022
Reeditado em 10/09/2024
Código do texto: T7565994
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