Precisamos de professores?
Se transmitir conhecimentos uma pessoa para outra é ato opressor, não pode o professor transmitir conhecimentos para os alunos, então o que têm os professores de fazer em sala-de-aula?
Se toda autoridade é opressora, então é o professor, se dotado de autoridade, um opressor, opressor de seus alunos, os oprimidos, então como podem os professores manter, caso exista, a ordem em sala-de-aula? Além disso, podem os professores submeterem os alunos a sabatinas para lhes avaliar o grau de conhecimentos, sendo que apenas as pessoas dotadas de autoridade e providas de conhecimentos superiores podem avaliar os que - em tese, pelo menos - lhe são inferiores?
Se não há conhecimentos superiores e conhecimentos inferiores, mas apenas conhecimentos diferentes, entendendo que sejam todos os conhecimentos de igual valor, os conhecimentos dos professores equivalem-se aos dos alunos, então por que são os professores remunerados pelo seu trabalho de transmitir conhecimentos aos alunos e os alunos não são remunerados para transmitir seus conhecimentos aos professores? Além disso, por que os alunos que entendem que lhes são inúteis os conhecimentos que os professores lhes querem transmitir, têm de, para que sejam favoravelmente avaliados, e avaliados pelos professores, até obterem o tão cobiçado diploma escolar, apreender, obrigatoriamente, os conhecimentos que eles lhes transmitem, mesmo que não queiram apreendê-los?
Se têm os professores de conhecer o universo dos seus alunos, e sabendo-se que em cada sala-de-aula há uns trinta alunos, conclui-se que é humanamente impossível os professores se inteirarem do universo de cada um deles, dedicando-se-lhes poucas horas por dia, para que possam orientá-los, e saber o que lhes é benéfico. Nesta afirmação, o que se entende por "universo do aluno"? A experiência de vida, os talentos, o temperamento, a sua condição social e econômica, sua cultura geral, seu tipo físico, seus males piscossociais, e muito, muito mais. É, ouso dizer, praticamente impossível saber quais elementos compreendem o universo de uma pessoa. Os professores, portanto, que falam em conhecer o universo de seus alunos - que seja o de um deles, apenas - é-me um tipo presunçoso. E acredito que, não podendo conhecer de cada um de seus alunos o universo, aplicam-se os professores em, pondo-se, sem dar provas de que nela estejam, numa posição de superioridade inquestionável, moldá-los ao seu bel-prazer, enfiando-lhes na cachola um bom punhado de carambolas e caraminholas.
Pergunto para os meus botões: Quantos quilos de farofa (farofa, aqui, é um eufemismo - não quero ferir suscetibilidades de pessoas flageladas pelo sentimentalismo tóxico) têm na cabeça aqueles que subscrevem as patacoadas pedagógicas da vaca sagrada da pedagogia nacional?