Sobre o amor próprio
Você se ama? Conscientemente, talvez, você me devolva a pergunta com outra indagação: Como poderia não me amar? Mas, então, provocativo, eu lhe faço outra indagação: Como poderia não se odiar? Porque, sim. Nós nos odiamos. Em muitos momentos. Em diversas situações. Desprezamos a nossa existência, subestimamos a nossa importância e desvalorizamos o fato de estarmos vivos. Muitos se odeiam ao ponto de tomarem medidas drásticas contra si mesmos na esperança de conseguirem alívio para aquilo que não suportam que habite em seu interior. Em um mundo no qual queremos ser aceitos – o que é natural –, mas que, para tanto, precisamos fazer o check-list em uma infinidade de obrigações, passamos a nos odiar quando percebemos que não somos capazes de atender a tantas exigências.
Mas o que seria o amor próprio? Muito se fala sobre amar às outras pessoas. Sobre cuidar daqueles que nos cercam. Sobre estarmos disponíveis a quem necessita de um braço estendido em sua direção. E tudo bem. Precisamos mesmo olhar para o restante da humanidade com certa empatia, pois isto nos ajuda a compreender o universo do outro e a respeitar sua diferença. O problema é que nesse de amarmos ao mundo, não amamos a nós. Estimamos aos outros. Diminuímos a nós. Negligenciamos o autocuidado. O autoapreço. A autoaceitação. Ninguém nos ensina a nos amar. Pelo contrário. Exigem de nós o nosso melhor e que não aceitemos menos do que isso. Mas ninguém se agacha à nossa altura e nos instrui a, em momentos da vida, abraçarmos nossas fragilidades, acolhermos nossas imperfeições e aceitarmos nossas vulnerabilidades. Ninguém nos permite amar a nós mesmos.
E, então? O que seria o amor próprio?
Walter Riso, psicólogo, traz em seu livro Apaixone-se por si mesmo a seguinte definição: “Amar a si mesmo é considerar-se digno do melhor, fortalecer o respeito próprio e dar-se a oportunidade de ser feliz pelo simples fato de estar vivo”. Resumindo, a partir da minha interpretação, amar-se é acolher-se, respeitar-se, permitir-se. Você se acolhe tanto quanto se dispõe a acolher a dor do outro? Você se respeita tanto quanto procura respeitar as angústias do outro? Você se permite a viver tanto quanto tenta permitir que o outro viva? Mas preste atenção. Se você não acolhe ao outro, não respeita ao outro e não permite ao outro que ele seja quem é, então dificilmente oferece essas ações a si mesmo, porque só concedemos ao mundo o que trazemos dentro de nós. Como poderemos amar às pessoas se não nos amarmos?
E amar a si mesmo o torna mais tolerante, mais compreensivo e com uma saúde mental muito mais fortalecida – é o que estudos sugerem. Isso porque quando você se ama, quando se permite à vida, quando consegue reconhecer as suas virtudes e forças e entender que é merecedor de grandes conquistas, fica satisfeito consigo e com a vida. E alguém satisfeito com a própria existência pouco se importa com a existência do outro no sentido de ofendê-la, diminuí-la ou desmerecê-la – pelo contrário, passa a desejar que o outro sinta o mesmo prazer que a vida lhe desperta, que o próprio amor lhe oferece.
Então ame às pessoas. E procure pelo amor nelas. Mas antes disso, ame-se. Conheça-se. Reconheça-se. Fortaleça-se. Disponha-se a uma viagem ao seu interior. Permita-se à própria companhia. Delicie-se com suas características e impressões. Você é único. Não há mais ninguém no mundo como você. E isso é valioso demais para que você se rejeite querendo ser como alguém. Ao amar-se estará liberto da exigência por ser como o mundo almeja. Ao amar-se verá que poucas coisas importam tanto quanto sentir-se bem consigo mesmo – genuinamente.
(Texto de @Amilton.Jnior)