Breves considerações sobre as enéadas I, II e III de Plotino
Viver bem não é se encontrar no estado em que o indivíduo sabe que o bem está presente, mas que caminha até ele à medida do agir em concordância com a vontade. Não é apenas prazeroso, não é o simples dever, o agir por agir por estar em concordância com a lei e isso ser necessário como fundamento da causalidade e liberdade, o é 'também'. O homem em concordância com a vontade não possui apenas o sensível, e o intelecto, mas, à medida do agir, isso mais intensamente. A autossuficiência do homem é à medida que para ele não é, isto significa, que está a depender do quanto caminha até o bem por necessitar. O bom e o belo para a alma consiste em Deus se assemelhar em virtudes, aproximando-se, assim, através da consciência do seu estado primordial, isto é, a ideia em forma e qualidade, haja vista, que estando na substância, dela se originará como realidade efetiva outra coisa a ela pertencente. O mal sendo carência do bem em proporção com o distanciamento desta, é equivalente a dizer, que o mal é a perda progressiva da consciência do bem, ou por outra, o mal é sempre um presente contínuo na crença do não-bem, ou de não existir o bem. Ser mal, portanto, é crer que as trevas existem, ou que tudo jaz trevas. Por as trevas não ser quando há luz e por ser desprovida de forma e substância, a sua significação está a depender da luz (o significante), isto é, da sua ausência ou presença, assim sendo, o mal não é por si. Não sendo o mal por si, não é uma substância-ontológica. Não sendo não-substância, não é pura alteridade antagônica ao bem. Não sendo completa alteridade _ em absoluta negação _ do bem, o vazio e o nada não existem. Há evidência a posteriori disto na mecânica quântica, me refiro a espuma espaço-temporal, e também empírica pela impossibilidade de conceber um sistema lógico-formal que comporte todas as contradições que advém ao assumir esta premissa.
O discurso sobre o indeterminado chega-se por vezes a ser determinado, pois a intuição que toma posse do sujeito e o sujeito que dela toma posse, isto é, em uma relação de dupla significação, é possível mediante a razão vital; o significado que 'significa' toda e qualquer significação manifestando-se mediante a vontade. O qualificado será contemplado em uma coisa porquê jaz magnitude também, pois há matéria. Plotino ao afirmar que a especificidade da matéria não é o formato por não ser qualificada nem possuir forma alguma, deduz que a sua especificidade é não ser algo outro que aquilo, conceitua, portanto, o ser-algo ou o todo-possível, que é toda a possibilidade de estruturação lógica advinda por necessidade ao se estruturar qualquer pensamento, proposição, sentença, e fórmula, por exemplo, pois o que é e tem a sua especificidade advinda na sua relação com as outras coisas é a fragmentação (visão implícita que a todo momento Plotino adotou sobre a matéria) do todo-possível na ideia de tudo, ou a apreensão sintética de um conceito mediante a fragmentação deste em predicados, por exemplo ('sob' o ângulo da filosofia kantiana _ perspectiva). Assim sendo, a matéria não é idêntica a privação, pois não é algo que dever-se-ia ser, mas não é, é algo e é isto, tudo o mais parte da intenção. Da mesma forma o conceito de todo-possível. Assim sendo, a razão é razão sem ser algo outro, porém, a matéria tem razão por ser razão em ser algo outro mediante a razão. Ela é a fração da alteridade, não podendo, assim, opor-se a ela que não seja pela imaginação, como o fez Plotino.
O que está em potência é o mesmo quando está em ato? Não, pois o está 'em' ato, isto é, a potência é sempre um estando, se manifesta em ato que é sempre um estando, sempre contínuo. O gramático em ato não é o mesmo em potência e a potência jazes não a mesma, outra em mais quantidade. O culto, assim como o bom, é o espírito, a substância pensante, a pura qualidade que origina a forma, haja vista, ser no espaço absoluto ou todo o espaço como conditio sine qua non da extensão e continuidade do movimento. Plotino ao afirmar, "o ser da essência inteligível" (...), inclina-se à redundância, pois o ser da essência é o ser por do ser originar-se. A diferença está na propriedade, no seu significado, que é sempre por si (ideia pura da coisa). Portanto, cada qualitas é uma propriedade não relacional, não deve-se, assim, confundir com o processo da qualia.
Que tipo de músico seria aquele que tendo a apreensão da harmonia como tal ou no inteligível, não fosse movido ao escutar os sons sensíveis? Pois estes já implicam àquele através da experiência pontual de razão vital. Está para além da mera correlação entre fatos e interpretações (aqui não em um sentido subjetivista), pois o juízo de fato, neste contexto, é espontâneo ao de valor. E a caracterização da proposição está para além da semântica e do valor lógico, mesmo sendo, pois, verdadeiro e falso ao mesmo tempo, é isto e mais ainda. Poderíamos aqui supor uma relação com o objeto humanizado ou (neste caso) com o objeto que não é significado à luz dos conceitos do entendimento conjuntamente com as formas puras da intuição. Como diria Wittgenstein, "Só a partir da consciência da unicidade da minha vida nascem religião - conhecimento - e arte" (não estou aqui necessariamente assumindo a síntese da relação entre ética e estética). O universo sendo belo não o seria em seu interior? Para isto se faz necessário também saber se diante do feio o indivíduo ("não mais homem") irá ou não sofrer um impacto estético, há ou não de admirar? Seria estas observações e perguntas retóricas na antiguidade deveras evidentes, óbvias, mas hei, pois, de denunciar o que se instalou no senso comum através de um dogma tão consolidado, que é a relação entre o belo e a verdade, tão bem conceituada e que o belo por sua vez no mundo das ideias se encontra como forma em si (ideia da forma), hoje em dia ao caminhar da história da filosofia, tal relação é duvidosa e, então, o que seria um argumento, a priori, puramente estético e empírico se tornou não só desacreditado, mas também não mais experimentado (dessensibilização), pergunto, portanto, as ideias do belo ou sobre o que é o belo 'significa' a experiência do/com o belo ou os modifica de fato? Se o sim é para a segunda alternativa, há, então do belo não ser belo? E como isto seria possível? Digo, se modificamos a ideia do belo ao o concebermos, não o era de fato, mas se modificamos a ideia do belo por o ser ideia (aqui não em seu sentido metafísico), então temos o belo como produto ou produção de uma determinada experiência, que somente ao indivíduo (em sua compreensão) pertence. Portanto, o belo seria um fenômeno ou a ideia do fenômeno? Mas sendo a experiência do indivíduo até estes fatores pontuais e determinantes, tida como uma experiência total, isto é, una, a intuição aqui não seria útil, mas sim a consciência sintética daquela experiência. Sendo ela para além de uma síntese, penso que o que mais se aproximaria da apreensão do conceito não seria a concepção clássica de fenômeno e sujeito, e sim a fenomenológica, em específico a de Husserl, isto é, como manifestação da própria consciência. Mas o que seria consciência ou ter consciência? Ao respondermos esta pergunta teremos a outra respondida.
"Bem, confiar todas as coisas a corpos, seja aos átomos, seja aos chamados elementos, e a partir de seu movimento desordenado engendrar a ordem, a razão e a alma diretriz é, em ambas as hipóteses, absurdo e impossível" (...). É de toda verdade tal afirmação e não se encontra tão distante da concepção moderna de física, onde, grosseiramente falando, o universo não só não deveria existir por conta da entropia estar sempre aumentando, como também pela quantidade de matéria e antimatéria no início do universo ser a mesma. Um princípio por definição é inerente, é algo anterior a vinda de qualquer conceituação, subjaz, portanto, o esforço intelectivo. Todas as ações que o homem pratica deve estar, ou não submetido ao princípio da razão, razão esta que deve estar ou não submetida a alguma ideia secundária, que a coaduna em torno de um desejo, desejo este bom ou não. Em síntese, estar ou não submetido ao funcionamento da razão conjuntamente com seus operadores gramaticais (lógicos) e, por conseguinte, a sintaxe, é por definição, estar submetido (involuntariamente) a um funcionamento que sujaz _ como alicerce de toda a estrutura _ a vinda do sujeito (ou indivíduo, se assim ele desejar). Tal base é dada e sobre isto não se pode muito discursar, apenas qual a sua natureza e origem. Assim sendo, o princípio da razão é adotado em toda ação, se assim não é, jaz negada, resta-nos apenas saber se a negação de uma proposição é a negativa da outrora negada e se esta negativa perde sua natureza ou elemento definitório, isto é, essência, pois a vinda de outra proposição que substitua aquela é uma antinomia (no seu sentido lato). Assumindo o evidente que nos é a razão, torna-se assim um axioma de onde tudo deriva, se analisado corretamente as questões da filosofia. Sendo a razão a nossa propriedade e sendo seu único atributo ou qualidade _ por isso jaz homogêneo _ o "ser em ato puro", o responsável ou o determinante para nos distinguir das outras espécies _ por isso nos definir _ é a substância pensante. Sendo a substância pensante responsável pela nossa existência tal como é, somos também seres do inteligível. Sendo também seres do inteligível, tendemos também por contraposição as coisas belas. Cada parte em nós (como apreensão sintética de uma qualidade, pois se dar por meio de analogias e operações lógicas entre vários elementos antes da vinda da qualidade _ em sua conceituação como tal _ até ela _ ainda não tão bem compreendida, haja vista, apontar para o inteligível _) é uma virtude menor _ pois em estado não puro e ser compreendida como uma unidade _ a apontar para o todo, que são as virtudes interdependentes e em si. Como a razão é o princípio, todas as coisas que existem devem por "regressão dedutiva" se coordenarem (combinação) de uma forma tal que chegue ao resultado desejado da intenção que a originou. Então temos no mínimo uma parcial determinação das coisas. A fealdade implica por contraste o belo. Aquela qualidade possui aquele ou aquilo cuja a aparência é desagradável ou naturalmente tende a isso, por sua vez, essa qualidade possui aquele ou aquilo cuja a aparência é agradável ou naturalmente tende a isso. Algo é definido como agradável quando o olhar não se satisfaz, isto é, sempre pede mais. Por extensão, isto se aplica a todos os órgãos do sentido ao nos entregar as percepções. Sendo a hipóstase a nossa diretriz _ no mínimo, ao simplificar o debate e ao inserir neste contexto, isto é, narrativa _, o sujeito que não a consulta chega a abjeção e enxerga esta existência como o ser que é não ser e põe, assim, um abismo entre o concebido e o existente. O 'ser enquanto é' é o ser do devir, o ser do agonístico, onde encontra-se fortemente presente nos seus discursos antilogias, pois a acuidade é qualidade daqueles que estão sob a regência do ser por meio da reminiscência através do contato até o bom hábito com a nossa essência. Porém, mesmo com esta tradução que fiz, retirando quase toda a metalinguagem do seu sistema, ainda assim é possível fazer a crítica de que ele não atingiu com clareza a noção de causa final, dado que a síntese (fraca por sinal) aqui possível foi entre causa eficiente, formal (qüididade) e final. Portanto, recai ainda no dualismo por conta da negligência ante o 'real dado', que é empírico e naturalista, a priori. Não há impossibilidade ad infinitum da série de causas ascendente, por conseguinte, descendente, pois a "prova" de Aristóteles é regida pela mesma lógica do "paradoxo" de Zenão. Assim sendo, a inferência/movimento, mesmo que, a priori, por concausa, é possível e, por conseguinte, o co-determinismo.
A alma em seu estado de indeterminação inicial é análoga as exclusões não-redutíveis no sentido de uma sentença que dita os limites éticos do homem através de uma negativa posta anteriormente a um predicado (não a não-virtude ou vícios _) sem haver um sujeito a que se refira ou um sujeito a significar um objeto com um propósito (imanetizado e não inerente, mas que reflete o metafísico no sentido que possui a mesma lógica regente), pois se não há sujeito o valor lógico da sentença não é suficiente e se não há as razões formativas (lógoi) do intelecto na sua conformação (morphé), que é a estruturação do ente, a vinda da identidade por meio da significação da substância pensante (eidos) não é possível. A diferença aqui é que a essência da coisa significada somente ao que significou pertence, pois a estruturação simplesmente conforma a matéria em um determinado arranjo e combinação, assim sendo, a ideia que ela reflete é uma ideia em algo outro. E a identidade surge a partir da interpretação da substância pensante _ atendo-se a todas as suas funções de significação _ sobre a estruturação geométrica vital do ente, portanto, é uma imagem que reflete (aquilo) e reflete-se (disso) em algo outro, haja vista, estar falando disto. Assim sendo, a relação é bicondicional, tendo em conta, a aproximação com a coisa mesma à medida do agir em consonância com a vontade. Nesta perspectiva, as afecções e movimentos também não alterariam a essência da alma (que é o ideal concebido da coisa), pois a ideia a conceber concebe-se a si mesma, logo, "a ideia a conceber em algo outro (aquilo) concebe-se (disso) nisso que é isto"; a diferença se encontra no grau. Portanto, a virtude e o vício não se originam no corpo ou a partir dele, mas da consciência do indivíduo que diferem entre si no grau, onde surge automaticamente a ação e cria-se pela constância o hábito.
A parte afetiva da alma (a que não é em si) tal como comumente conhecemos ao passar por todo o processo de significação (como o proposto no último parágrafo do esboço de epistemologia _ 2) é mais forma do que qualquer outra coisa (quando não reduzida a neuroquímica). Portanto, a percepção (aísthesis) ao ser reduzida a uma faculdade cognitiva da alma nada explica. Ao conceber a alma como inteligível e a percepção do objeto como a real apreensão de suas qualidades, chega-se a uma concepção realista, porém, entra em contradição, pois a tentativa de enlace entre o sujeito e o objeto por meio do enlace entre a alma e a matéria é barrada pela distinção entre "sujeito cognoscente" _ vide a concepção clássica _ e a realidade passível de compreensão e por não haver um intermédio.