Construindo pontes
Todas as vezes que me deparo em momentos difíceis, a vida bate em minha face, fazendo-me enxergar ao mesmo tempo em que sinto, à importância de ter amigos.
Às vezes, procuro palavras para tentar designar aquilo que a vida me fez sentir, quando em momentos difíceis, vida e morte pareciam estar no mesmo caminho, ou passar a ter o mesmo sentido...
Vivemos em um mundo que naturalmente, tudo parece necessitar ser mensurado para que se sirva de parâmetros de importância, a fim de que se defina aos olhos do outro, um peso para a sua projeção...
Essa forma de construir parâmetros para se ter confiança ou segurança em alguém, embora pareça ser normal na sociedade que vivemos é, ao meu ver, um sintoma da fragilidade humana, com valores e princípios que foram desnorteados pelas circunstâncias da vida, causando instabilidade no interior do outro.
Cada um de nós carrega em si mesmo um backup de experiências vividas e de vontades em perspectivas, que se interagem buscando possibilitar a sua realização. O choque dessas realidades são conflitos que passam a dialogar para superar o trauma vivido, lançando sorte para um tempo futuro.
É na fronteira desses desafios de construir elos e pontes é que passamos a compreender melhor o sentido de uma amizade...
E como mensurar ou criar parâmetros para definir uma amizade? Onde guardá-la?
Acho que não saberei responder a essas perguntas, mas me atrevo a dizer que a amizade não se pode mensurar ou criar parâmetros para defini-la... A amizade é um sentimento construído em conjunto e que não depende de uma instrumentalidade ou sistematização para que funcione ou apresente resultados... Ela não está presa aos métodos científicos, mas à vida!
A amizade é, ao mesmo tempo, um ponto de convergência e de divergência, onde o Sim e o Não precisam ser ditos, sabendo que ambos mesmos parecendo opostos estão interagindo para um único sentido que, aos olhos cartesianos, talvez seriam projetados em sentidos diferentes.
O que estamos querendo dizer é que a amizade tem esse caráter agregador, que consegue filtrar as divergências retendo apenas o que constrói. Para isso, somos instigados muitas vezes, a negar a nós mesmos em prol do outro, até que um dia, em um novo evento, o sol brilhe pela última vez, e o vento passe e leve consigo todos os resquícios palpáveis, mas nada será perdido, pois a memória permanecerá viva!
Agora, não mais construindo pontes, mas com o seu projeto acabado.
Recife, 16 de julho de 2022.
Luiz Carlos Serpa