Silenciar ou não

Há algum tempo compartilhei por aqui uma reflexão criticando a nossa tendência a bloquear as pessoas das quais discordamos ou que, por algum motivo, não gostamos. Surgiram alguns comentários. Algumas pessoas concordaram com os dizeres e outras não, argumentando que em certas ocasiões, quando machucadas por alguém, não conseguem manter o vínculo que um dia existiu. Com base nessas manifestações eu pensei um pouco mais sobre o assunto. Às vezes, em nome de nossa saúde mental, tudo o que podemos fazer é bloquear alguém. Mas ainda acredito que isso deva acontecer de forma sensata e racional. Não dá para simplesmente silenciarmos todos pelos quais não nos simpatizamos.

Existem pessoas que nos fazem mal. Cobram-nos tantas coisas, fazem exigências que somos incapazes de suprir, querem nos ver sempre atendendo às suas expectativas. E ficamos exaustos. Quando não, são pessoas que nitidamente nos invejam, que estão sempre querendo saber da nossa vida não com o propósito de festejar conosco nossas conquistas, mas com o objetivo de saberem quais passos precisam dar a fim de nos superar. Fazem da vida, da nossa relação, um verdadeiro campo de competição. E isso é cansativo.

Dessas pessoas, que impedem nosso crescimento ou se enciúmam pelo nosso sucesso, precisamos nos afastar. Não podemos dar abertura a quem não agrega em espaços tão preciosos da nossa vida. E percebemos que o tempo é tão curto quando paramos para pensar sobre o tempo que perdemos precisando recuperar uma energia sugada por pessoas sem luz própria. Não precisamos disso. Se não somos nós essas pessoas, não precisamos ter que lidar dia após dia com exigências desumanas ou invejas explícitas. Há muitas outras pessoas que somariam em nosso caminho esperando para que as encontremos pelas curvas da vida.

Então dessas pessoas podemos nos afastar – talvez devamos. Agora, o que fazemos em muitos casos é que bloqueamos pessoas que nada nos fazem, que em nada nos agridem, mas que, por serem minimamente diferentes de nós, acabam vistas como grandes inimigas. E aqui uso bloquear com o sentido de cancelar – e cancelar só tem uma definição: é querer que a existência do outro se torne inexistente.

E fazemos isso porque não conseguimos conviver com o fato de que as pessoas podem discordar de nós. Somos narcisistas demais para não tornarmos as ideias, os pensamentos e as opiniões do outro, em algo que seja sobre nós. Não notamos que a história do outro não é sobre quem somos. Mas sobre quem ele é. E se ele é diferente de nós, nada disso tendo relação com a nossa existência, porque nos incomodamos tanto ao ponto de desejar para que nunca tivéssemos que ouvir aquele ser humano?

Eu não gosto de muita coisa. Discordo de tantas outras. E tenho minhas próprias opiniões que, em muitas ocasiões, vão diretamente no sentido oposto da maioria das pessoas. Mas muitas dessas pessoas que pensam diferente de mim estão pouco se importando com esse fato. Porque assim como os meus pensamentos são sobre mim, os pensamentos delas são sobre elas. E se eu fosse “cancelar” todos que divergem de mim em certos pontos, acabaria isolado, solitário, sozinho.

Percebe o que quero apresentar aqui? As pessoas discordam de nós, possuem vidas diferentes das nossas, crenças que não são as mesmas que as nossas, mas isso é sobre elas, não sobre nós. Para que nos importarmos tanto? Ao invés de silenciar quem pensa ou entende a vida de uma forma diferente da sua, ao menos tente compreendê-lo. Não quer dizer que você mudará de ideia. Quer dizer apenas que você entenderá que nada daquilo interfere no seu direito de ser como é. Não interfira no direito do outro de passar pela vida como ele bem entende.

E só mais uma coisa. Também está liberado nos afastarmos daqueles que, soberbos em suas opiniões, as impõem sobre nós ou não respeitam as nossas. Com quem não sabe conversar não podemos desperdiçar o limitado tempo do qual nos dispomos.

(Texto de @Amilton.Jnior)

Amilton Júnior
Enviado por Amilton Júnior em 15/07/2022
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