DIVAGAR
Ela caminha entre os escombros de sua alma.
Já trilhou um caminho parecido com esse, em outro tempo. Já sabe o que esperar. Ainda assim, sente medo.
Apesar do caos, caminha resoluta. Sabe que tudo termina. Este caminho tem um fim onde outro caminho começa. Chama-se esperança.
Em outros tempos, menina assustada, ela trilhou esse caminho olhando para o chão. Agora, mulher fortalecida, consegue erguer a cabeça e olhar adiante, ainda que com muito esforço.
A bagagem que leva é pesada, como era em outros tempos, mas ela é mais forte agora e já sabe como carregá-la. No momento certo, a bagagem será deixada para trás. Neste momento, a bagagem faz parte dela.
As pedras do caminho, que tentam fazê-la tropeçar, são velhas conhecidas, quase amigas. Já se conheceram em outras andanças, são as mesmas pedras. Ela não é a mesma.
Pensar em suas muitas andanças e vivências, tudo que suportou e venceu, todas as cicatrizes que adquiriu, leva-a a perceber o quanto mudou. Consegue até sorrir.
Ela continua a divagar. Mesmo incerta de seu caminho, segue firme. Voltar não é possível, parar não é uma opção. Caminha olhando para longe, para dentro de sua alma, olhos fitos na esperança.