Sabiás, aroeiras e o que tem de amor.
Quando eu era criança havia no fim da rua um enorme campo, a rua era sem saída, mas ali, no fim da rua as possibilidades eram ilimitadas. A natureza sempre esteve ali e foi a primeira vez que minha avó me apresentou a Dona Aroeira e o canto dos sabiás que ali voavam. Nunca fui uma garota ligada a princesas e bonecas, meu quintal no fim da rua com meus amigos era minha felicidade genuína, a vida era acordar, escola, mercearia do pai, macarrão da vó. Sempre tive meus refúgios e cantos de segurança. Acabou. Um dos meus medos era de fato a separação dos meus pai, ela aconteceu, doeu e até hoje ela está aqui, como diz a frase do Gregório de Matos em meus pulsos - Em qualquer parte sempre fica o todo-, a dor do fim do amor dos meus pais está aqui em mim assim como a gentileza ensinada pela minha vó a mim ao passar em frente a Dona Aroeira pedir bom dia para que não houvesse nenhuma alergia nos meus braços finos e miúdos. Eu sou um ser completo, completamente completo de historias e de todos esses momentos que ando coletando em cada lugar que eu pouso. A vantagem é que o sabiá não precisa ter medo das tempestades, ele sabe quando elas irão chegar, quanto a mim? Eu vou voando e se a tempestade vir, me recolho na segurança das minhas palavras.