O Fardo dos Melancólicos
A vida deita sobre nossas cabeças dizendo chega, acalma os teus passos que os dinossauros da modernidade ainda vão demorar a chegar, o peito ainda tem folego e os olhos ainda tem lagrimas, os pés tem espaço para mais calos, há tempo de pensar e quem sabe até pausar dentro de um silencio eloquente brincando de ser feliz e rabiscando a tristeza no vácuo dos nossos corações andantes.
Andantes e sobrecarregados de fardos fúteis e sonhos que parecem vagar na atmosfera de marte. A vida é pequena demais para caber tantos sonhos e os sonhos são menores ainda para a gente gastar o tempo todo desbravando eles. Mas para onde ir? eu observo as abelhas e elas já nasceram sabendo o que fazer como um papel impresso no seu material genético. Abelhas nunca vão construir ninhos. Essa missão são dos pássaros, assim como os pássaros não farão favos de mel.
Alguém que ame nunca dirá que é hora de ir embora, que a saudade é bem-vinda assim que aquele sentimento bom atravesse a porta, que a pausa até em casa é realmente enlouquecedora e o peito falte ar e encha de dor, sufocando como um saco plástico que cobre as nossas cabeças fazendo cada segundo ser tão duradouro quanto a coragem de quem deu as costas e foi embora. Alguém que ame nunca irá embora, mas dirá pode ir, aqui está quentinho apesar de fazer frio lá fora. Às vezes é preciso atravessar o desconhecido para no final abraçar algumas dores e descobrir que não é tão desconfortante assim.
Os olhos estão fora do esquadro e a pressa de chegar logo se foi, o coração já está quase desistindo de pulsar, mas que bom que não mandamos nele e sua vontade própria muitas vezes parece brigar com a razão, criar muralhas impossíveis de atravessar e como o som do piano que é preciso de pausas para a música se libertar, a gente dá tempo ao tempo para entender o que aconteceu lá no começo e descobrir que o nosso tempo não precisa acompanhar o do outro e descobrir que a nossa pressa de existir é do tamanho do fôlego dos desesperados.
As pessoas vão e vem e a gente também, ninguém escapa dessa natureza de ser gente que carrega o peso do outro e errar também, de ser gente que se importa com a dor do outro, mas sente dor também, de perdoar os erros para puder ficar mais leve e voar além e o fardo fica nas mãos de quem não teve tempo, de quem não se deu pausa de perdoar também. A vida deita sobre nossas cabeças, mas o peso do fardo quem vai determinar é você no caminhar.