Laços
A vida segue o seu fluxo e quando menos percebemos adentramos a tão temida e indesejável velhice. Para alguns de nós ela será relativamente tranquila, sem grandes problemas de saúde ou impossibilidades de funcionamento, no entanto, para outros, ela trará limitações que ao longo da juventude jamais foram experimentadas. Mas o fato é que todos perderemos o vigor da idade jovem, a força nas pernas, a destreza nas mãos, a capacidade nos olhos e a percepção dos ouvidos. O fato é que em alguma medida, profunda ou leve, vamos depender de alguém que nos ajude em alguma coisa, nem que seja a suportar a partida de nossos amigos, irmãos, pessoas que, por chegarem no mesmo ponto da vida que nós, começarão a partir e nos trarão aquela lembrança constante de que nós também, em algum momento, partiremos. E nessa hora, quando dependermos do afeto de alguém que nos ajude colhendo nossas lágrimas, serão os laços que construímos ao longo da vida que servirão de auxílio e apoio.
O problema é que estamos pouco preocupados em formar laços e vivemos nossos relacionamentos de forma desleixada e menosprezada. Parece que não nos importamos em deixar boas marcas naqueles que nos cercam. Não nos damos ao bom trabalho de deixar claro às pessoas que elas são especiais e que somos gratos por sua existência em nossas vidas. É como se realmente acreditássemos que somos onipotentes, invencíveis e que nada, nem o imbatível tempo, é capaz de se levantar contra nós. Mas é quando menos esperarmos que seremos confrontados pelo amargor da solidão.
E em um mundo de bilhões só fica sozinho quem não sabe criar laços.
Mas não. Não estou dizendo que precisamos criar laços com as pessoas para que em um futuro de dificuldades tenhamos a quem recorrer. Não estou dizendo para que desenvolvamos relacionamentos com base no interesse mesquinho. Fracassaríamos absolutamente porque perceberiam que só seriam importantes para nós quando tivéssemos necessidade. Estou dizendo para que criemos laços através da nossa capacidade de cativarmos as pessoas. Lembra-se do que disse a Raposa ao Pequeno Príncipe? Que para brincarem ele deveria cativá-la. E cativar, explicou a Raposa, era fazer com que um necessitasse do outro ao ponto de se tornarem únicos um ao outro. Isso é criar laços. É permitir que a união nos transforme em um só.
No entanto, estamos ocupados demais com o nosso narciso para que, somando-nos ao outro, passemos a ser um. Nossa intenção, na verdade, é que o outro se faça uma introjeção dos nossos valores, das nossas verdades, para que nos vejamos refletidos nele. E isso, sinto muito, nos afasta da proposta de criar laços. Nosso egoísmo pode custar a amarga solidão.
Então que possamos encarar a vida com mais sobriedade e consciência. Somos importantes, mas não mais que os outros. E ao invés de cogitarmos a ideia de nos aproximarmos de alguém apenas quando precisarmos, por que não tomamos o caminho oposto e nos façamos necessários uns aos outros? Que sejamos tão carinhosos, afáveis e compreensivos mutuamente ao ponto de sentirmos falta de olhar para o outro e enxergar nele não o nosso reflexo, mas quem ele é, a essência que dele radia a nos aquecer!
(Texto de @Amilton.Jnior)