Arrumar o coração
Existe um provérbio chinês que diz: “A gente todos os dias arruma os cabelos. Por que não o coração?”. E a partir disso podemos refletir sobre o fato de estarmos incessantemente preocupados com o nosso exterior, com aquilo que as pessoas poderão ver, com o que vestimos, o que calçamos, como nos ornamentamos, como escondemos as nossas “imperfeições”. E nessa de vivermos em função das expectativas alheias, negligenciamos o cuidado para com o nosso próprio interior, a nossa casa, onde habitamos. E quando nos damos conta sentimos que estamos bagunçados, desorientados, sem um propósito, sem saber o que de fato fazemos nessa existência. É como se tivéssemos caído de paraquedas e agora precisássemos aprender a sobreviver sem qualquer instrução. Tudo porque não olhamos para o nosso interior da mesma maneira como estimamos o exterior.
E não estou dizendo que devemos, então, andar descabelados, com roupas rasgadas, sapatos remendados, olhos remelentos. Cuidado com a nossa imagem também é uma forma de autocuidado. Mas esse cuidado com a imagem se torna problemático quando é a única coisa que importa. E quando se torna uma forma de opressão no sentido de estamos imobilizados por regras e determinações que são exteriores a nós. Se torna problemático quando usamos essa parte da existência para agradarmos a existências que não são nossas.
Porque o que acontece é que tantos constroem imagens a partir do que esperam deles. Mas não do que eles consideram como ideais para si mesmos. Certa vez, conversando com uma psicóloga sobre a questão do corpo perfeito, ela falou sobre o fato de estarmos sempre nos anulando em função dos gostos das outras pessoas, e que esse é um comportamento que aprendemos desde crianças. Então parece que estamos fadados a sermos agradáveis. Pergunto: quando nos agradaremos? As outras pessoas são importantes. Mas, em se tratando de nossas vidas individuais, precisamos estar sempre em primeiro lugar.
Que tal olhar para o seu interior? Organizar esses pensamentos? Equilibrar esses sentimentos? Que tal criar uma conexão com a nossa singularidade, com o todo que somos, respeitando a nossa existência em sua completude? Não somos um rosto bonito. Um corpo esbelto. Uma postura incorrigível. Somos o que carregamos em nosso peito. Somos o que sabemos que somos. Não podemos ser definidos pelo que as pessoas veem de nós. Mas a partir do que nós sentimos estando na posição na qual ocupamos. Entretanto, só saberemos exatamente o que somos, quando olharmos para dentro e nos encontrarmos com a gente mesmo. Cuide dos seus cabelos. Cuide mais do seu coração!
(Texto de @Amilton.Jnior)