O lugar
Todas as vezes que somos inqueridos pelo Tribunal de nossa consciência, temos a “ideia” mesmo que “inconsciente”, que algo poderá surgir, emergindo do interior de nossa memória percepções e vivências que nos levam a reflexões...
Às vezes nos deslumbramos quando algo inesperado ocorre com pessoas próximas a nós, ou mesmo quando se explode nos meios midiáticos situações cataclísmicas, atribuindo sucesso a aqueles que passam a se encontrar na mídia pelos critérios de noticiabilidade, ou que a faz dela seu espaço para mostrar sua existência. Este espaço cravado nas telas da ficção, onde nada parece real, inclusive o nome, é o lugar que passa a dar vida a personagens não necessariamente vinculados a uma realidade concreta.
Se a vida imita a arte ainda não me considero apto a fazer essa afirmação, mas entendo que a vida é uma arte primitiva e originária, e inspiradora para “outras” artes... Disso, não tenho dúvida!
Decerto que as narrativas da vida de algumas pessoas nem sempre conseguem dar/ter visibilidade, pois, para isso, precisariam estar inseridas num contexto e lugar que os fizessem deixar de ser comuns e passassem a ser lordes, ou melhor, midiáticos...
Todas essas questões aparentemente “deslocadas” de razão e coerência, nada mais é que uma “tentativa” de tentar mostrar que o lugar que você possa estar ou venha a estar não apenas determina o que você é, mas o que poderá vir a ser...
É importante, contudo, perceber que o espaço do lugar não se limita a uma percepção física e concreta, mas, também: simbólica, racional, emocional, moral, legal, temporal e institucional.
Decerto que o lugar será o espaço que dirá quem somos, ou que viabilizará possibilitar a materialidade do que se deseja ser...
Uma das questões centrais de que vejo nessa percepção de lugar, é a existência de interações cotidianas ao nível do fluxo do pensamento, sem uma reflexividade de sua prática. Ou seja, as coisas ocorrem naturalmente, sendo guiadas pelo piloto automático de nossa mente, mesmo que, muitas vezes, esteja em rota de colisão com o que você acredita ser correto.
Tudo ocorre diante dos olhos, como uma música que se escuta, que sabe o seu ritmo de fazer as coisas acontecerem, sem a percepção de que tudo está conectado, mesmo que sua consciência consiga ter essa compreensão.
Isto não atenua o querer de uma situação, mas lhe permite compreender que estar em um lugar, não é necessariamente fruto de uma escolha, mas das circunstâncias das escolhas e das vivências impostas em seu momento tirânico de expressão.
Se foi imposta ou não, é uma questão de óptica, não apenas do lugar que você esteja, mas de (e/ou) onde poderá chegar.
Recife, 23 de junho de 2022
Luiz Carlos Serpa.