pressentir o (in)esperado para transmutar sentimentos finados.

há períodos da vida em que é impossível olhar a dois palmos adiante e sentir o futuro.

dia desses aprendi que isso é ansiedade, pois o medo só diz respeito à uma ameaça no momento presente.

pra você ver: até o medo consegue se ancorar no aqui e agora, algo que muito me foge ao controle.

aliás. muitas coisas me controlam, e não o contrário. mas, aqui, o assunto é sobre finais inesperados. a outra ideia anoto, para não esquecer.

reside em mim uma eterna apreensão por finais premeditados e uma teimosia ao torcer por meu próprio erro. um desespero quase sempre disfarçado de "talvez seja coisa da minha cabeça".

um jeito carinhoso de me autodeclarar maluca.

termo que, inclusive, já me direcionaram tantas vezes que vivo a cogitar se estou noutra realidade ao projetar minhas expectativas, necessidades e inseguranças nos outros. mas, só de reconhecer isso, algo me diz que, talvez, esteja errada. que bom.

nesses momentos difíceis, sentir o futuro é o que me pega, e me escapa. e são tantos.

há o futuro próximo de "o que fazer ao acordar amanhã?", e também o "em quanto tempo posso superar isso?". confesso: o pior é "e se eu não conseguir?".

uma miopia emocional absurda para uma negação ainda maior. porque a gente sabe que passa.

não importa o quê, como, ou quando: sempre passa.

e aí, quando a gente olha para trás e não dói, virou perdão. história, memória. afetiva, ou não. registro, ficha.

é um processo. e o que mata é a espera.

mas, quando não mata, ela recupera. e a vida renasce, regenera.

ainda não consigo enxergar o que me aguarda: talvez seja a lágrima que saiu mais cedo, e a que ainda virá.

mas uma coisa eu sei: isso vai me asfixiar, me fazer agonizar.

até me levantar, devagar, e dizer: não há nada a superar, apenas lembrar.

e, enfim,

respirar.

Ana Fiuza
Enviado por Ana Fiuza em 21/06/2022
Reeditado em 21/06/2022
Código do texto: T7542197
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