Um serviço desvalorizado
Um serviço desvalorizado
Um serviço que costuma ser desvalorizado e que muitos ainda veem como “coisa de mulher” ou de trabalhadoras domésticas é o serviço doméstico. Muitas pessoas não o fazem como se fossem ficar inferiores se o fizessem. E, em muitas casas, é comum que, enquanto apenas uma pessoa trabalhe, as outras se encostem. Essa é uma situação bastante injusta. Não é certo que uma pessoa fique sobrecarregada tendo de cozinhar, varrer, colocar roupas para lavar e limpar banheiro ao mesmo tempo em que as outras estão relaxando confortavelmente. Com certeza, muitas pessoas se veem na situação descrita, visto que, especialmente nos tempos difíceis em que vivemos, poucos podem se permitir pagar uma empregada doméstica ou uma diarista para fazer o serviço de limpeza geral. Também podemos dizer que, ainda que muitas coisas tenham mudado, traços da nossa cultura machista e escravocrata insistem em determinar o comportamento das pessoas. Quantas mulheres, além de trabalhar fora, não têm de arcar com as tarefas domésticas e cuidados com os filhos? É verdade que tem aumentado o número de homens que ajudam nos serviços de casa, porém não podemos negar que persistem traços machistas na nossa cultura. E devemos falar da nossa herança escravocrata porque, na época da escravidão, havia, além dos escravos que trabalhavam nos campos e minas, os trabalhadores domésticos, que se encarregavam da cozinha e demais cuidados com a casa. Vale acrescentar que, após o fim da escravidão, os negros tinham poucas opções e as mulheres negras e mulatas praticamente só tinham como escolha trabalhar como empregadas domésticas. Assim, as empregadas domésticas se tornaram algo comum nos lares brasileiros. É interessante observar que em outros países, como os Estados Unidos, apenas pessoas muito ricas podem dispor de empregados para fazer serviços como limpar o chão e cozinhar, porém, com a crise econômica que temos enfrentado, está mais difícil ter condições de pagar pelo menos uma faxineira, visto que tudo está mais caro. Desta forma, muitos não podem dispor de mão-de-obra para fazer os serviços domésticos e é comum vermos muita gente que, além de ter de lutar todos os dias para se sustentar, ainda ter que cuidar de uma casa, lavando roupa e esfregando o chão.
Uma casa não é responsabilidade de apenas uma pessoa e um serviço doméstico é um serviço útil como qualquer outro serviço. Entretanto, é um serviço desvalorizado, considerado sem importância, tanto que mulheres que não trabalham fora de casa muitas vezes se sentem frustradas e exploradas. A nossa sociedade capitalista só dá valor àquele trabalho que é remunerado. No entanto, cuidar de uma casa lavando, passando e cozinhando não é um serviço inferior nem insignificante. Mas as mulheres “do lar” não são vistas como gente importante e muitas vezes se veem sobrecarregadas porque é comum que ninguém as ajude, por achar que elas não trabalham, devido à crença infundada de que trabalho doméstico não é trabalho de verdade. É comum que os maridos e filhos das mulheres do lar nunca reconheçam seus esforços e essas mulheres sentem que vivem com as casas nas costas, trabalhando como animais de carga. E nós sabemos muito bem como é a vida dos burros, jumentos e cavalos. Além de puxar carroças pesadas, muitos recebem alimentação insuficiente, são maltratados e, quando os proprietários acham que eles ficaram inúteis, são abandonados para morrer. Muitas donas de casa mal têm tempo para si de tanto que os serviços de uma casa tomam seu tempo. Não é justo que alguém se sinta sobrecarregado. A pessoa que se sente sobrecarregada desenvolve muitos sentimentos de frustração, insatisfação e até depressão, por sentir que ninguém a olha, como se ela fosse invisível.
Deveríamos observar a natureza e ver bons exemplos de como se deve trabalhar. Vejamos as sociedades das abelhas e das formigas. Por que se está falando das abelhas e das formigas? Porque, tanto nas colmeias quanto nos formigueiros todos trabalham e fazem sua parte. E era assim que deveria ser numa casa. Se todos trabalharem e se ajudarem, ninguém ficará sobrecarregado e exausto. Deveria se ensinar às crianças (meninos e meninas) a ajudar em casa. Assim, a casa ficaria limpa e arrumada e não haveria ninguém cansado de tentar dar um jeito na casa sentindo que não tem forças para fazê-lo, até porque o serviço doméstico é muito cansativo. Infelizmente, muitos pais não educam os filhos desde cedo a assumir responsabilidades domésticas. Ensinar a assumir responsabilidades é uma boa forma de mostrar aos filhos que eles têm de ser solidários e isso é muito útil na formação do caráter. Assim sendo, passemos a observar nossas atitudes em relação às pessoas. Não é justo que uma pessoa trabalhe demais enquanto outras não fazem quase nada, inclusive quando a casa é grande e possui muitos objetos.