Dialogus (III)
- Querido discípulo, sobre as tuas outroras indagações, referindo-me ao primeiro diálogo, onde estavas adotando uma postura mais nominalista, confrontei-te com perguntas que aquela antecediam, lembras tu que uma delas era o porquê de seres possível refletir como agora fazes?
- Sim, meu esplêndido mestre e não somente, percebo agora, pois, que o fato de estar pensando não é uma inferência, tampouco uma conclusão precipitada e falibalista, mas uma constatação imediata provida de uma ação ininterrupta e irrevogável, isto é, tão natural quanto o correr dos rios.
- Agora tomas tu meu raciocínio e os digeri de tal maneira que descobres o que abscôndito estava e trás a luz o que há de mais basilar em toda e qualquer reflexão. Pois o que antecede o raciocínio, se não ele mesmo em estado primitivo?
- Me deparo com esta constatação e percebo a mim mesmo obnubilado.
- Sim, pois tens agora a certeza que pensar é estar sendo e toma para ti esta certeza de que pensar é ato da substância e deduz tudo o mais.
- Bem, querido mestre, apesar de ainda me encontrar estupefato, apenas posso concluir que a natureza da mente é indiferente a própria natureza, antagônica por definição.
- Não utilizaria o termo antagônico, pois trás ele uma forte carga ascética. Mas devo concordar contigo, principalmente no que concerne a substância.
- Mas ainda não entendo porquê trouxestes a esta discussão tal questão atona.
- Bem, jovem discípulo, como haveria tu de me explicar a utilização da razão em sua forma mais basilar, se não através de formas lógicas mais primitivas? Ao que poderíamos chamar leis lógicas primevas ou princípios lógicos.
- Entendo, que estão a estruturar todo e qualquer raciocínio possível... Semelhante o é as leis físicas fundamentais.
- Exatamente e derivam do que, se não da substância pensante, que por sua vez do ser deriva?
- Sim mestre, mas ainda não entendo porquê utilizaste o conceito de Ockham.
- Ah querido discípulo, vejo que tens muito a aprender, utilizei tal conceito por as palavras como a conhecemos em nossa língua ou não surgirem por meio de processos naturais e, portanto, suas relações por eles também são regidos.
- Exato, por derivação e composição.
- Não somente, por exemplo, há processos psicológicos também, principalmente no que tange o seu entendimento.
- Sim, mas ainda não entendo a questão dos sintagmas.
- Elas são referentes as palavras, aos discursos, a priori, têm assim como tudo origem no campo.
- Hum... Agora entendo um pouco melhor.
- E querido discípulo, lembre-se que a origem de tudo parte da intenção.
- Sim mestre, esta para mim é a chave hermenêutica.
- Lembres, pois, da última aula em que chego ao conceito de todo-possível e reflitas sobre tudo o que falei.
- Agradeço-te imensamente pela atenção que a mim depositaste e espero que estes ensinamentos me sejam úteis para a minha caminhada.
- Eles vos serão. Não precisa me agradecer, pois nossos caminhos não se interceptaram por acaso e agora preciso voltar a percorrer o meu caminho, a estrada é longa e árdua, mas o destino valerá a pena. Adeus.
- Adeus.