O INTERIOR DO INTERIOR...

 

O que vim achar aqui? ...

 

Passei anos sem saber, procurando incessantemente...

 

Muitas pedras tirei dos quintais, algumas até dei utilidade, adornando com elas caminhos... assim como lixos... que recolhi dos cantos. Alguns reciclei, como três cadeirinhas de ferro, enferrujadas, esquecidas no quintal. Soldei, coloquei sapatinhos de borracha e patinei com tinta, do meu jeito, e colei pétalas de girassol em seus encostos. Estava tão acalorada, tendo acabado de chegar, por estar dentro do interior. Ficaram tão lindas...o lixo renovado; ninguém notou...

 

Plantei árvores, criando jardim espargindo flores. Ninguém nada notou...exceto, um alpendre, que construí para a planta trepadeira “sapatinhos de judia”, que na florada é de uma exuberância rara, então alguém observou: “ que pensava serem as flores de plástico”!

 

Enevoado e constante inverno frio...Minha alma andou tiritando em plena estação de verão... Daí, tive que vestir meu coração de lã...

 

Experimentei, tristemente, sua falta de calor humano. Cheguei a ter saudade do interior, útero, de minha mãe. Me veio a certeza que o exterior dela, onde morava na época, devia, também, ser gelado...

 

Inóspitos espaços verdejantes, sem cores de flores.

 

Vidas ausentes, tendo seus jardins observados à distância, por trás das janelas.

 

Vozes inassimiláveis, sem sonoridade.

 

Silêncio noturno, em dias ensolarados de céu azul.

 

Raramente há, não se ouve, Bom dia, Boa tarde, Boa noite...

 

Natais piscantes de luzes trêmulas entristecidas, como a comemorar o nascimento de Jesus natimorto.

 

Pessoas revestidas de cimento in natura, cinza chumbo.

 

Marcha de soldados nas paralelas

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A maioria dos serviçais não servem. Comparecem para serem bem pagos.

 

Criaturas que regozijam-se com pássaros engaiolados, de frente às arvores.

Muitas, insensíveis, mantém cães acorrentados, tendo quintais espaçosos e desativados.

E os gatos? Algumas, não os apreçam, apreciam como petiscos e mata fome.!

 

O que achei?!

Escondendo-me da rejeição, encontrei o meu “eu” interior, um tanto perdido, e algumas dores, traumas, conflitos, passaram a ser expurgados.

 

Sendo o silêncio um amigo que nunca trai (já tendo sido testado nos velhos tempos de Confúcio), tristeza se liberta, abre a porta para a alegria.

 

A surpresa: nunca antes querida, “dar de cara com a Dona Rejeição!”. Até então, havia convivido com ela, sem olhá-la de frente. Sempre a imaginei bizarra:

 

Rejeita tanto, dizendo não, não, que o coração corroe, a mente se perde consciente no insano da razão inconsciente...

 

Sentindo-me rejeitada, ouvindo não ou nada, o coração endureceu, refugiou-se na mente, porém, protegido com a razão.

 

Contudo, diante das dores no mundo, dos animais abandonados sofredores, ele amolece...só é duro comigo mesma, me cobrando, apontando erros, me questionando sempre...

 

Tendo consciência que sou um personagem na minha ilha imaginária, as impressões são exclusivamente minhas, não fiz nenhuma pesquisa. Qualquer semelhança é mera coincidência. Havendo discordância, ótimo, é prova que nem tudo está perdido....