Dialogus (II)
- Querido discípulo, pensastes bastante sobre as questões postas no primeiro diálogo?
- Sim, grandioso mestre e percebo que estava a se referir antes das perguntas finais às palavras que significam por si, que é substancial às próprias palavras significativas, e as que significam por intermédio de outra, que são as acidentais e que esta divisão se refere a dos nomes e dos verbos.
- Sim, estás a se referir as ideias de Anselmo contidas no gramático. Bem, tomemos um exemplo para adentrarmos em um problema que tem relação com este, o que definiria o branco como branco para ti caro aluno?
- Ah sim, me lembro deste problema e lembro-me que depois de muita discussão a solução que mais chamou a minha atenção foi ao diferir de Platão a respeito da composição de partes a partir do mesmo predicamento.
- Sim, onde discorda que o termo branco significa as coisas como um mesmo predicamento.
- Exato e nesta parte eu percebi que apesar de ser o mesmo predicado, o que o diferencia é o contexto onde está inserido.
- Não poderia esperar menos de ti querido discípulo. O que estás a dizer é que a função predeterminada de cada vocábulo (em si) não é suficiente para significar todo e qualquer objeto de estudo, tal significação, não só por se relacionar com mais de um termo à sua compreensão, isto é, à vinda do conceito, está a depender da subordinação que cada palavra possui entre si diretamente (como classes) e indiretamente a depender do contexto.
- Bem, corrija-me se estiver enganado, uma frase é a base em termos estruturais _ funcionamento _ de uma oração e, neste âmbito, a significação do vocábulo e suas relações possibilita a vinda do conceito. Ora, querido mestre, pões em minhas palavras tanta atenção que as complexiza e as torna mais esplêndida.
- Dizes isto, pois não sabes que o papel do professor é como o de uma parteira, ou por outra, levar o interlocutor a descobrir suas "próprias" verdades que jaz em seu ser, a tão cara maiêutica de Sócrates. Pois bem, pensar o que classifica um gênero e uma espécie como uma coisa só é o próprio equívoco, digo, não é o que classifica "como uma coisa só" _ por meio da composição de predicados _, pois seria equivalente a pensar uma classe como uma mera somatória de elementos que partilham entre si determinadas semelhanças, que é "definida" como classe a ou b. Na verdade o que está a se fazer é observar a dinâmica dos predicados, isto é, o logaritmo que advém _ por meio da indução _ de uma estruturação específica de predicados. Portanto, não é somente a relação entre a classe dos verbos e nomes com suas determinadas significações que possibilita a estruturação de um pensamento ou entender porquê o branco é branco (a propósito, seria por 'ser a qualidade e o ter'), mas por também estar submetido a sintaxe assim como a palavra está para a sua compreensão (denotativa e conotativa) com a subordinação semântica através dos sintagmas.
- Querido mestre, se trouxeste a esta discussão a lógica matemática a se relacionar com a filosofia da linguagem, só posso deduzir que isto se deu por meio dos aspectos linguísticos a anteceder a linguagem, sobretudo formal, onde teríamos os operadores lógicos como guias à conceituação, mas não deverias assumir a possibilidade de tais relações lógicas não antecederem a estrutura lógica, mas dela fazerem parte, talvez até como subproduto? Devo também observar, querido professor, que os morfemas nem sempre significam algo, assim como me parece que se utilizas do conceito de subordinação semântica do Ockham à parte do contexto, pois tal conceito surge para explicar a relação entre as palavras conjuntamente com suas significações, ou seja, fortemente antagônico o é a concepção aberladiana da palavra como unidade mínima de significação.
- Oh o quão és perspicaz é o quanto admiro a tua astúcia, porém, lembrar-te-ás que este não é o caminho do filósofo. Explicá-lo-ei então, mas julgo que hoje não seja possível.
- Oh não se vá mestre, pois quando explicares não haverei de lembrar com a mesma intensidade com que agora lembro.
- Não se preocupe jovem, pois reaverei todos os ditos à tua memória.