Hoje

Hoje eu preferi enfrentar o frio do que enfrentar meus pensamentos.

Cheguei em casa do trabalho, troquei a roupa do corpo e me pus novamente à rua, andando rápido como quem foge... de si.

A rua estava bem fria e ao sentir o frio gelar meus ossos, eu conseguia, por um instante ínfimo, sentir outra coisa que não minha própria ansiedade.

Adentrei na academia acreditando que poderia descarregar ali minha frustração e dissipar a ansiedade. Ledo engano! Eu fui e voltei com elas, companheiras inseparáveis. Na volta o frio estava ainda mais intenso e, dessa vez, quase não o senti... sentia apenas o vento bater e meus pensamentos, como se todo meu corpo estivesse pensando, como se tudo fosse um grande cérebro.

Entrei em minha casa e era como se eu tivesse uma bagagem enorme que não passaria pela porta. A resistência de entrar em casa pressupunha a intensificação de meus pensamentos e antevia a insônia.

Cozinhei dois ovos e os comi como que por obrigação - sem sentir fome nem gosto nem prazer.

Agora estou aqui escrevendo este desabafo, na esperança de poder relê-lo em dias melhores. Dias em que possa sentir o frio ser frio, a fome ser fome, o mundo ser mundo e meus pensamentos apenas pensamentos.