Depressão: Resistência ou Desistência
Ocorre um desencadeamento com a vida que resulta em um vazio existencial, deixando a pessoa angustiada com as responsabilidades, com as escolhas que faz e, como a única responsável por gerar a sua própria felicidade. Querendo se distanciar do meio social, a pessoa se isola e adoece. A sua vida é invadida por sentimentos de mal-estar, como se tudo tivesse perdido sentido. A busca constante por prazer e realização, alimenta ainda mais sua insatisfação. O mundo é de incertezas: as coisas podem ou não acontecerem. Sem compreender tal contingência, a pessoa tenta encontrar segurança, mas se vê imersa no tédio e desânimo – quando não tem aquilo que se propôs a fazer.
Desconectado com seu Eu, a pessoa fica suscetível, seu humor é afetado, o seu corpo cansa, fica apática e sem vontade de realizar as tarefas do cotidiano. O culto ao corpo, a política, ao consumismo, tiram dela o real foco do sentido de sua existência. A ansiedade e a depressão estão sendo “fabricadas”, elas aumentam a incerteza e a frustração. Como alguém que tem diante de si a liberdade social, a responsabilidade pelo seu destino e dotada do poder de escolha, apresenta um alarmante estado depressivo?
Muitas vezes a depressão instaura na pessoa como seu modo de vida: ora resistindo às exigências do mundo, ora querendo desistir. A depressão é incapacitante, ela encobre e/ou evidencia sentimentos de fracasso que o deprimido percebe e passa a se culpar já que, desamparado das instituições formadoras de identidades – como família, escola, política e religião, por exemplo, sente que não consegue dar conta da liberdade irrestrita que o mundo lhe oferece. Mas não se sente deprimido pela restrição de realização das possibilidades – e sim, pelas inúmeras existentes.
Vivemos na sociedade da pressão: nos vemos sendo pressionados por todos os lados. Sem habilidades para lidar com cobranças, exigências, a pessoa se vê perdida, atormentada tentando manter um padrão de vida que lhe dê o mínimo de sobrevivência, em meio a essa instabilidade econômica, o avanço da idade que ameaça a empregabilidade. O deprimido é alguém que não mais se reconhece, vive asfixiado pela falta de sentido e identidade.
Como não se deprimir em uma estrutura social que desumaniza o homem?