Quem você se tornará?

Na vida estamos vulneráveis a tantas intempéries que nem imaginamos. Dentre elas, está a dor. A dor é uma certeza. Passaremos por ela. A experimentaremos por mais que não seja o nosso desejo, por mais que não a procuremos espontaneamente. Desconfortos nos atingem. E não temos nenhum controle sobre eles. A chuva cai do céu, esperemos por ela ou não. O trânsito fica fechado e carregado, estejamos nós atrasados ou não. Mas o sofrimento que essas coisas gerarão em nós é de nossa escolha. E a questão é se vale a pena escolher sofrer por coisas que não dependem da nossa vontade.

“Não sou o que aconteceu comigo, sou o que escolho me tornar”.

A frase citada é do talentoso e sábio Carl Jung. E ela resume o que quero transmitir com a reflexão de hoje. Quando estamos prestes a sair de casa, animados para aquele compromisso que vínhamos planejando há semanas, e ouvimos as primeiras gotas da chuva anunciada se chocarem contra a nossa janela, podemos escolher entre ficarmos nos considerando os mais azarados do mundo, ou pegarmos o guarda-chuva para encarar a tempestade ou, ainda, simplesmente esperar para que ela termine. Não poderemos olhar para o céu carregado e dizer: chuva, pare! É inútil. Não temos controle sobre ela. Então não vale a pena puxarmos os cabelos, jogarmo-nos sobre o chão e nos lamentarmos por vivermos as maiores desgraças do mundo. A dor da chuva é inevitável. Mas sofrer por causa disso, é uma escolha.

O mesmo vale para o trânsito engarrafado. De que adiantará esmurrar o volante, buzinar incessantemente e, encolerizado, dizer mil palavrões? A nossa raiva nos transportará para o começo da fila? Ou fará com que os carros à nossa frente simplesmente desapareçam? Não seria melhor se, embora preocupados com o atraso para os compromissos, aproveitássemos aquela oportunidade para ouvirmos uma música há tanto esquecida ou brincarmos com os nossos filhos sobre quem adivinha o pensamento de quem ou, ainda, olhássemos para a pessoa amada bem ao nosso lado e declarássemos nosso amor? A dor do trânsito paralisado é inevitável e foge do nosso controle. Mas sofrer por causa disso também é uma escolha.

Percebe o que quero dizer? Viveremos dores nessa realidade. Passaremos pelos maiores infortúnios da vida. Teremos que enfrentar desgostos injustos. Mas o que faremos a partir disso é uma decisão que tomaremos. Aceitaremos paralisar nossa caminhada pelo medo de nas próximas esquinas nos depararmos com novas dificuldades? Ou entenderemos que certas dores estão muito além da nossa capacidade de controle ou previsão e que tudo o que podemos fazer é decidir como passaremos por elas? E não estou dizendo que será uma escolha fácil. Muito menos que terá que ser feita solitariamente, sem um auxílio, sem alguém que preste sua ajuda e atenção. Quero apenas pontuar que, não importa o que a vida faça conosco, importa quem escolheremos nos tornar a partir disso.

(Texto de @Amilton.Jnior)