A perda da evidência e a crise de sentidos
Se há uma palavra que se manifesta em vários sentidos e intensidades em minha vida é a sensibilidade.
Em alguns escritos já fiz uma “tentativa” de descrevê-la ao afirmar que: “A sensibilidade é a causa primeira das coisas, e o desencontro do sensível é o desencanto da alma. Pois, sem a sensibilidade o Ser deixa de existir em essência, e o Amor se torna o mais desprezível e medíocre dos sentimentos”.
Refletir sobre a vida não é tarefa fácil, principalmente quando sabemos que ela se finda, e com ela, muitas coisas se vão...
Assim, também são os sentimentos quando se perde o que também não se deveria perder...
Não há dúvidas que ser sensível é diferente de estar sensível..., mas me questiono se há muita distância entre ser sensível e ter sensibilidade...
Em momentos oportunos, a vida nos permite conhecer esses pequenos espaços que nos envolve e que possibilita observar o outro, entender o outro, querer o outro e sentir/viver o outro.
O que tento dizer nessas divagações são resquícios do pensar, que passa a contemplar a vida como uma via de mão dupla, cheia de regulamentos, normas e sanções; com aclives e declives, curvas sinuosas e perigosas; às vezes, com acostamentos em curtíssimos espaços, mas, em outros, sem a possibilidade para estacionar, sendo impulsionada apenas a acelerar, para que uma avalanche de coisas, sem qualquer possibilidade de contenção, não venha passar por cima de nós em um momento de grande declive e aceleração... Isto tem um nome, a “Tirania da Circunstância”.
Em outros momentos, por mais potência que possamos ter, não teremos fôlego nem forças para alcançar a velocidade desejada, pois as circunstâncias vão de encontro à estrutura do nosso querer, reduzindo nossos alentos e frustrando, de vez em quando, nossos sonhos...
Decerto, também haverá momentos que nossos instintos estarão a flor da pele, aguçando sensações e desejos que nos levam ao delírio de querer sentir aquilo que as evidências do pensamento já materializaram, levando-nos à crise de sentidos e à existência do que sentir...
São divagações que a mente produz em razão do que se sente e do que se quer, mesmo quando o retorno frustra a motivação do perdão...
Tudo o que foi dito nestas letras não fogem “à causa primeira das coisas...”. Mas nos convidam a entender que, mesmo que as evidências sejam perceptíveis e aparentemente, inadiáveis, não estarão isentas de se perderem no espaço do acostamento, mesmo sendo curto o seu tempo.
Perder aquilo que já era manifesto é anular todos os indícios e possibilitar entender que nada mais faz sentido.
Recife, 12 de junho de 2022.
Luiz Carlos Serpa