Sob as asas do vento...
Sempre quando meus pensamentos me instigavam a mergulhar no passado, em minha adolescência, emergia da memória uma célebre frase que eu dizia quando algo novo me acontecia, e eu teria que dar satisfação para onde eu estaria indo...
A resposta era simples, mas o seu contexto não transmitia tanta simplicidade assim aos olhos dos meus pais. Esta era a frase: “Vou sair sem destino”!
A ideia de sair se traduzia para mim com a possibilidade de desbravamento de outros lugares, e o sentido dado ao “sem destino”, tornava-me o mais maduro dos seres, dono dos meus passos e de minhas escolhas, do lugar que eu escolhi para viver...
Passadas algumas décadas, a mesma frase hoje ressignificada pelo tempo, mostra-me que o sentido de sair sem destino era, na verdade, o sentido de movimento, e, que, para mim, movimento quer dizer Vida!
Movimento é algo que por si só fala sobre renovação...
Acontecimentos são fatos encapsulados em projéteis, localizados próximos à espoleta, na zona de explosão... Uma vez acionados é quase impossível conter a impetuosidade dos choques e do calor de seus devaneios...
Desse modo, o estopim dos acontecimentos são fontes e forças cataclísmicas que nos aflige e nos angustia, mas que também nos impulsiona a viver o magma em ebulição dentro do peito.
Para cada evento em nossas vidas, sempre haverá uma conexão entre espaço e tempo.
O espaço nos remete ao lugar dos acontecimentos podendo os mesmos estarem relacionados à nossa própria vida e nossa forma de conectarmos com o universo...
O tempo é elemento incognoscível que imaginamos conhecer, mas não o conhecemos, apenas o percebemos após se encontrar consolidado no passado, mas no momento de sua contemporaneidade, transitando no cotidiano de nossas vidas, muitas vezes em rota de colisão, desconhecemos as causas de suas ações, passando a indagar à consciência seus efeitos avassaladores...
A sequência quase constante das reticências, traduz-se na ideia de continuidade, de algo que não se finalizou e que continua em movimento...
Mais uma vez, em minhas divagações, o movimento entra em cena ratificando um sentido de esperança, de novos horizontes, de afetividades correspondidas sem a necessidade de um álibi para refutar as fugas da consciência, que nem sempre pertenciam ao tempo do movimento...
A vida começa com o sopro, e o movimento é a ratificação de sua existência...
Levarei comigo a certeza de que esse tempo incognoscível que vivemos pode ser sentido, vivido e amado; aperfeiçoado, fortalecendo-me a refutar os possíveis descaminhos que tentem desviar minha trajetória e frustrar o meu voo sob as asas do vento!
Recife, 07 de junho de 2022.
Luiz Carlos Serpa