Aceitar nossa existência

Quem você é?

Talvez essa pergunta o assuste. Talvez seja o maior terror de todos aqueles que serão entrevistados para uma vaga de emprego. Talvez seja o pavor dos estudantes que, em um dia qualquer, deparam-se com esse tema na lousa e o professor, todo sorridente e animado, explica que a redação do semestre será sobre quem nós somos. Temos um pouco de dificuldade de falar sobre a nossa identidade. E não é necessariamente pelo fato de não sabermos quem somos, já que temos um mundo em polvorosa gritando a todo momento em nossos ouvidos quem devemos ser e o que devemos fazer, deixando-nos confusos diante de nós mesmos. As causas podem ir além. Pode ser que tenhamos dificuldades na hora de falar sobre quem somos porque nesse confronto com a gente mesmo acabamos nos deparando com características, com trejeitos, que não são exatamente os que mais apreciamos em nossa existência, mas que fazem parte da nossa constituição e nos ajudam a compreender a história que vivemos.

O ponto é que precisamos aceitar quem somos. Precisamos ficar em paz com a nossa verdade. Precisamos nos harmonizar com tudo aquilo que trazemos dentro de nós. Por mais doloroso que seja. E será. Em um mundo de tantos moldes, modelos e padrões, ficamos perdidos quando percebemos que as nossas características não cumprem com as exigências, não combinam com os propósitos, não atendem aos requisitos de uma sociedade sempre tão autoritária e exigente. E o sofrimento fica ainda maior quando passamos a nos odiar por isso. Mas também é um ponto fundamental que para nos odiar já há pessoas demais, não precisamos nos somar à essa cruel fila, não acha? Daí a importância por nos esforçarmos nesse processo de autoaceitação. Ele leva tempo. Exige mudanças de perspectiva. Exige que possamos nos amar. E o amor não é tão fácil. Ele é complicado. Requer cuidados minuciosos aos quais é nosso dever nos atentar.

“Já que sou, o jeito é ser”.

Essa frase linda é da maravilhosa Clarice Lispector. E nos traz uma mensagem muito profunda. Algumas coisas a gente consegue mudar, alterar, com um pouco de paciência e perseverança a gente consegue modificar. Mas muitas outras são simplesmente partes do nosso DNA nas quais não conseguiremos mexer com perfeição. São coisas que nos fazem únicos. Ímpares. Singulares. Coisas que nos descrevem, que nos diferenciam, que nos destacam. Coisas que mostram ao mundo que nós existimos. Coisas das quais devemos nos orgulhar, mesmo que não cumpram com a lista de exigências que cobram de nós. Somos humanos. Aprimoráveis, mas nunca perfeitos. Que possamos, em paz, viver a nossa perfeita imperfeição.

(Texto de @Amilton.Jnior)