Olhar para a dor

Na vida somos submetidos a diferentes dores. Perdemos pessoas que amamos. Perdemos o emprego que tanto adoramos. Perdemos nossos animais de estimação que tanto estimamos. Perdemos aquele vigor de outrora, do qual um dia tanto nos orgulhamos. A vida é sobre ganhar. E ganhamos muito ao longo do tempo. Mas a vida também é sobre perder. E perdemos igualmente enquanto vamos vivendo. Mas talvez o preço de ganhar seja perder. E isso é curioso, não?

Fato é que essas perdas doem. Mas não apenas as perdas. As experiências da vida uma hora são agradáveis e tremendamente prazerosas. Outrora são angustiantes e profundamente dolorosas. Risos e choros. Prazeres e dores. Tudo faz parte da vida. E tudo passa. O regozijo, tal qual a desolação, passa. E outros júbilos vêm aí, assim como outros lamentos. Porque tudo faz parte da vida. Ganhos e perdas. Não se esqueça disso. Não se esqueça de que a vida não é isso ou aquilo. A vida é isso e aquilo.

O problema é que não gostamos de sentir dor. E isso é meio óbvio. A maioria das pessoas não costuma gostar da dor. Só que não tem jeito. Gostemos ou não, ela existe. E, gostando ou não, teremos que enfrentá-la. Leia bem essa última frase. “Teremos que enfrentá-la”. Porque, sabe o que acontece quando rejeitamos a dor e tentamos, a todo custo, fingir que ela não existe? Ela só nos mostra o quanto fomos incapazes na hora de tentar ignorá-la. E, então, ela aumenta. E arde. E persevera em arder.

Certa vez, em um dos meus livros*, escrevi que “você precisa olhar para essa dor. Pegar essa dor com as próprias mãos. Só assim poderá se libertar dela em algum momento”. E é isso. Precisamos aceitar os nossos desconfortos. Precisamos olhar para aquilo que está ardendo e cutucá-lo um pouquinho, examiná-lo em detalhes: por que está doendo? Por que não para de doer? O que causou essa dor? E o que a impede de parar? Por que a ferida não cicatriza? Por que o machucado não se cura? Por que meu corpo não se restaura? E as respostas para essas perguntas nos aliviarão daquele sofrimento que prolongamos quando, ao invés de investigar a causa dos nossos males, preferimos fingir que eles não existem enquanto que, na realidade, esmagam-nos de dentro para fora.

Com tudo isso quero dizer que precisamos olhar para a dor. Não temos escolha. Não nos é permitido outro caminho. Quando quebramos algum osso a dor só vai embora quando chegamos ao médico, ele nos examina e decide pelos procedimentos mais adequados. É verdade que durante esse exame a dor se intensifica. Já viu quando alguém desloca o ombro? Na hora de colocá-lo no lugar a dor é lancinante. Mas aguda. Passa. E o conforto vem. Com as dores da existência é o mesmo. Vai doer na hora de colocar tudo no lugar. Mas é passageiro. É agudo. Não torne crônico aquilo que é efêmero. Cure-se. Permita que o curem.

(Texto de @Amilton.Jnior)

(*) Livro “Quanto Custa o Amor?”