O problema nunca esteve em mim
“O inferno são os outros”
Jean-Paul Sartre
Quando eu era criança, eu detestava o fato de ser mais alta do que as crianças da minha idade, não apenas pelo fato de que meus colegas de turma me rejeitavam por achar que eu era mais velha e repetente, como também porque os adultos viviam cobrando que eu me comportasse como “uma moça”, exigindo que eu tivesse o comportamento de uma criança de mais idade. Era comum eu ouvir coisas do tipo: “É uma vergonha, uma menina do seu tamanho agir assim”; “Meu Deus, tão grande e tão besta” ou “Pare de chorar, você é uma moça”. Entretanto, as outras meninas queriam ter minha altura, porque diziam que era difícil serem pequenas. Eu também odiava o fato de ter cabelo cacheado e volumoso, principalmente porque o padrão de beleza impunha um cabelo liso, que fazia com que muitas moças( e rapazes também) alisassem seus cabelos. E aqui, no Brasil, devido ao nosso histórico de miscigenação racial, é comum vermos pessoas de cabelos cacheados e crespos. Porém, eu cresci ouvindo que cabelo crespo ou cacheado era “cabelo ruim”, o que me fez, por muito tempo, prender meu cabelo para disfarçar o volume ou recorrer a técnicas de alisamento.
Como o tempo, fui vendo que não é fácil ser ninguém. Se eu não achava fácil ser mais alta e ter tendência para engordar, pude ver que, para muitas outras pessoas não era fácil serem mais baixas, gordas, magras ou mesmo terem cabelos lisos. Eu achei incrível ver moças de cabelos lisos que queriam que eles fossem pelos menos ondulados. Isso me fez entender que nunca estamos completamente satisfeitos com nossa aparência e também me ajudou a ver que eu não precisava me sentir mal por ser um pouco mais alta por causa de pessoas que me chamavam de “grandona” ou “Maria Brucutu”. Aprendi que o problema nunca esteve em mim. Estava nas pessoas que tinham preconceito comigo por causa de minhas características.
Cansei de brigar comigo mesma por não ser pequena e magra, afinal, lamentar-me não fará com que eu mude minha aparência. E ser mais alta ou mais baixa não é um defeito. Além disso, há pessoas muito mais altas do que eu. O mundo é diversificado, as pessoas são diferentes. Se alguém mexe conosco por sermos mais altos, baixos, gordos, magros ou por termos cabelos volumosos ou lisos demais, o problema está nas pessoas que não entendem que não existe um padrão único de ser a que devemos corresponder. Cada pessoa é valiosa do jeito que é.