Medo de passar sem passar

Já falamos por aqui que muitos sentem medo da morte, daquele segundo final, daquele momento no qual perderemos a nossa consciência para que nunca mais se repita. Muitos têm medo do que é que pode haver do outro lado. Medo do esquecimento. Medo da terminalidade inevitável da existência. E não podemos culpar quem sente medo da morte. Eu acredito que todos nós, em alguma medida, sentimos certo desconforto diante da ideia do “deixar de existir”. Até mesmo aquele que bate no peito e vocifera que não teme o fim. Esse é o mais medroso. E seu medo é tão alto que ele tenta silenciá-lo a partir do próprio berro. O fato é que uns sentem um medo tremendo. Outros apenas aquela sensação de vazio por não saber como é. O fim nos incomoda.

No entanto, o que realmente deveria nos incomodar é o fato de que a vida passa rápido. E eu também já trouxe por aqui a ideia de Sêneca, filósofo romano, de que a vida é suficiente. E continuo concordando com ele. Sobretudo quando diz que a vida é suficiente para aqueles que sabem usá-la. O que é inegável. Mas também é um fato que, mesmo fazendo um bom uso da chance que temos de estar nesse mundo, as experiências da vida passam depressa. De maneira que, quando menos esperamos, já está na hora de dizer adeus a algo tão bom ao nosso coração. E é aqui que trago o pensamento de Bráulio Bessa: “A eternidade da morte não me assusta. A brevidade da vida, sim”.

Epicuro já dizia que não é necessário temer a morte. Após ela, nada há. E por que sentir medo pelo nada? E Bráulio está nos dizendo sobre o seu incômodo pela rapidez com a qual a vida passa. E esse medo, sim, é necessário. O medo de passar sem passar. Mas o que é isso? “Passar sem passar”? Estamos todos neste mundo. Você que está me lendo nesse momento está fisicamente neste mundo. Mas será que estamos essencialmente no mundo? Ou será que apenas fingimos? Vivemos ou sobrevivemos? Respiramos ou existimos? Muitos passaram por esse mundo, mas não passaram pela vida. Não passaram pelas experiências do viver. Não passaram pelos prazeres do existir. Não passaram pelas alegrias do ser. Não passaram por aquele arrebatamento do procurar-se e encontrar-se. Passaram. Mas não passaram. Que o nosso medo não seja pelo fim. Mas por chegarmos ao fim sem termos passado pelo começo.

(Texto de @Amilton.Jnior)