Um carinhoso cuidado
A gente nem se dá conta, até que percebemos que não somos tão divisíveis quanto pensávamos e que chegamos ao nosso limite. E, então, entendemos que precisamos nos cuidar. Mas às vezes essa noção chega um pouco tarde. Quando já estamos enfraquecidos. Sem ânimo para mais nada. Sem forças para continuarmos a nossa caminhada. O fato é que erramos ao nos comprometermos com o bem-estar de todo o mundo e nos esquecermos de que precisamos estar em primeiro lugar na nossa lista de prioridades. É bonito querer cuidar das outras pessoas. Talvez seja inerente à nossa condição humana esse olhar preocupado com os outros. Mas antes de nos dedicarmos às existências alheias, é necessário que dediquemos zelo e amor à nossa própria. Caso contrário, além de não sermos capazes de cuidarmos das outras pessoas, ainda perdemos a chance de viver a nossa própria história.
E digo isso porque muitos têm se enchido de obrigações e não têm se cuidado, não têm observado com detalhe sua saúde física ou emocional. O tempo passa. Os dias voam. E o autocuidado é cada vez mais negligenciado como se cuidar do outro fosse a nossa maior missão. O que não é verdade. É claro que é importante. E é necessário que possamos olhar para as outras pessoas sensíveis o bastante para nos incomodarmos com as injustiças que muitas vezes elas sofrem. Mas isso não é tudo. E negligenciarmos o cuidado para conosco mesmos não nos faz pessoas melhores, mais evoluídas, mais iluminadas. Pelo contrário. A doutora Ana Cláudia, em seu livro A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver, diz que “quem não cuida de si mesmo, mas vangloria-se por cuidar dos outros é um hipócrita”. E conclui o pensamento dizendo que “quando afirma que a vida do outro vale mais do que a sua, está a mentir: a vida do outro vale para você se vangloriar. Para dizer: ‘olha como eu sou boa pessoa! Mato-me para cuidar da vida dos outros’”.
O autocuidado não é um capricho. Não é um luxo. E não é manifestação de egoísmo. É uma necessidade. Precisamos estar bem conosco mesmos. Precisamos estar a cada dia mais conectados com quem somos, com o que queremos, com os pensamentos que possuímos, com os desejos que sentimos, com os propósitos que buscamos. Não apenas para estarmos bem para cuidarmos das outras pessoas se assim pudermos. Mas, principalmente, para que possamos ser gratos pela dádiva do existir – pela dádiva de termos a chance de abrilhantar um mundo cheio de tantas sombras. Mas isso só é possível se soubermos como fazer para que a nossa luz seja ligada!
(Texto de @Amilton.Jnior)