Caso perdido

Gostaria de compartilhar ideias e criações particulares, todavia, por mais doloroso que seja, preciso me expor um pouco para pelo menos sentir que ainda estou viva - para o desgosto daqueles que me desejam o mal - porque espero encontrar algum alívio em abrir o coração, pois a tristeza também faz parte do ciclo da vida.

Sou uma pessoa que vive altos e baixos como qualquer outra. Não gosto de mudanças muito bruscas e repentinas, embora elas aconteçam todo o tempo e quase sempre me derrubem, vivencio várias vezes um padrão doloroso: conheço uma pessoa especial, ela entra no meu coração, na minha rotina, me motiva, inspira, depois, quando menos espero, vai embora e leva consigo uma parte de mim.

Além disso, a felicidade me assombra, tenho certo receio dela porque sempre que a minha vida parece estável e de certa forma o caminho está mais fluente, a angústia sai do casco e me convence de que o destino vai puxar o meu tapete outra vez e lá se vai a minha esperança outra vez porque retorno ao fundo do poço e tenho consciência de que talvez demore muito para eu remontar os pedaços quebrados do meu coração.

O silêncio não é compatível com a minha personalidade porque, chorando ou sorrindo, nunca mergulho raso. Calar meus posicionamentos e opiniões foi uma alternativa diante do medo de incomodar algumas pessoas e nunca teria sido minha primeira opção se eu não tivesse me visto completamente à deriva.

Isolei-me porque já sofri demais tentando fazer com que me notassem, no entanto, em muitas amizades fui eu a única amiga porque a iniciativa de manter a chama acesa sempre foi minha, a reciprocidade nunca foi equilibrada e na maior parte do tempo sei fingir que posso suportar isso, que sei ser autossuficiente e não precisar de ninguém, porém, é uma mentira idiota que conto para me confortar.

Tem sido um tanto desolador para um orgulho relutante admitir que as pessoas que eu pensava que sempre estariam ao meu lado vivem melhor sem mim, presumo até que me deem como morta e embora pareça tolo, gostaria de ter lido a mensagem de alguém que estava preocupada (o), com saudades, querendo saber se eu estou bem, no fim, nada. Como se eu nunca tivesse existido.

Antes do pior bloqueio criativo da história, eu costumava encontrar conforto quando escrevia e mais ainda quando compartilhava textos e conhecia pessoas que se identificavam com os sentimentos e pensamentos lá expostos, agora, quando tenho me esforçado para destravar o peito, sinto medo e acabo por me manter incomunicável, afinal de contas, as pessoas que desejaram o meu mal se deram bem e minha vida é um caso perdido, não há nada que possa ser feito, ninguém pode devolver o que perdi, nem substituir.

Enquanto isso, sigo invisível, sendo a ovelha negra da família e a irmã feia e burra.

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 17/05/2022
Código do texto: T7518418
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